devagar e sem pausa

fui de novo para o estúdio, fazer mais uma tentativa de daguerreótipos nas minhas placas prateadas. poli duas novas placas (uma de 2min de banho de prata; 1 de 4min de prata). fiz o polimento manual, como em rochester.

hoje deu vontade de ‘olhar para fora’. montei a rolleiflex na varanda e fiz uma tomada dali. a fotometria estava em EV15(100) no sol e EV 14 na sombra. expus duas placas, ambas com 2min, mas variei na abertura f 8 na primeira placa, f 5.6 na segunda. na segunda, apesar de mais aberto, entrou uma nuvem cobrindo um pouco o sol. revelei as duas placas por 3h.

ao acender a luz depois de fixar e lavar estranhei o alaranjado da placa. ao secar com o soprador e olhar na luz, estava lilás. não era aquela imagem esmaecida e azulada como aquela placa da máquina de escrever… ela estava com bastante informação, nas áreas de sombra e nas áreas mais claras… mas com uma tonalidade arroxeada.

estava agora a noite conversando com o Camilo Sabogal… ele sugeriu fazer um teste de faixa para a revelação, para chegar no tempo máximo dessa luminária. ele disse que testou com a lâmpada dele quando que começa a aparecer véu, deu 2h15, portanto sempre revela 2h naquela luz. ele acha que hoje minhas imagens ficaram subreveladas, por isso a tonalidade lilás… enfim, mais um teste para fazer. aproveitei a disponibilidade e generosidade dele para consultá-lo sobre o tempo que ele guarda placas sensibilizadas e o tempo que ele pode aguardar antes de revelar uma placa fotografada. a resposta dele foram duas semanas e uma semana, respectivamente. e o fixador também pode aguardar depois da placa ter sido revelada (duas semanas é muito mas dá para aguentar um tempo depois de revelar). ele comentou que a placa fica mais sensível no dia seguinte de sensibilizar, e que ganha-se um ponto na hora de expor. vou testar! importante que as placas são muito sensíveis à umidade, portanto é preciso ter bastante cuidado com isso.

por fim comentava que esse processo tem muita vontade própria, coisa que ele considera o mais encantador nesse processo. eu, por outro lado, estava mais acostumada com processos mais ‘obedientes’, então estou sofrendo um pouco com esse… agora sigo lendo bachelard para tentar me acalmar… 😁

enfim… seguimos! conforme sugeriu o wladimir fontes: devagar e sem pausa, como as estrelas… eu completei: e as lesmas 🐌 ✨ e elas vão largando um rastro de iridiscências pelo caminho.

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hoje ao acordar fui surpreendida com uma mensagem no instagram @daguerreotipista . Tarmo Virves começou comentando que ‘diria que a exposição estava correta, mas que faltou revelação, por conta dos tons’. começamos a falar sobre dicas de lâmpadas para revelação (e o uso ou não de ventiladores para resfriar as placas durante a revelação), depois passamos a conversar sobre as cores durante a fumegação e a diferença de contraste e sensibilidade de cada coloração, as variadas pastas e pós para polimento, manchas sortidas, filtros de diferentes cores para revelação… isso me levou a pensar que volta e meia surge uma corrente colaborativa quando o assunto é daguerreótipo. ao ver alguém dando voltas em círculos, outros daguerreotipistas mais experientes se sentem compelidos a ajudar. algo como ‘daguerreotipistas do mundo todo, uni-vos!’. não são muitos ao redor do globo… então, todos os adoradores do sol e da prata sobre o cobre, respeitadores do iodo e temerosos do mercúrio e do bromo se prontificam a dar toda a sorte de recomendações e conselhos, quando veem alguém ‘em apuros’. estou amando! Tarmo Virves é da Estônia e vive na Finlândia, mas enviava todas as mensagens já passadas pelo google tradutor, então as mensagens já chegavam em português. amorosidade. a comunicação aconteceu sem dificuldades para mim. ❤ foi lindo!

anotando aqui tudo o que peguei de dicas: normalmente essas colorações são por falta de revelação. a solarização é diferente (apenas as áreas solarizadas ficam azuladas/esverdeadas). escolher na hora da fumegação a cor amarelo dourado é mais rápido, mas pode ser mais contrastado também, resultando em solarização. tarmos prefere o roxo-magenta. o sol é mais confiável para revelar, mas uma possibilidade é usar 4 lâmpadas 150w fluorescentes, muito próximas (1/2 metro, é quase o mesmo tempo que o sol). camada de filtro amarelo duplo é muito mais rápido do que filtro rubi (porkalla saberá dizer qual amarelo deve ser). virves nunca usou ventiladores pra resfriar as placas e nunca teve problemas (mas lá é bem mais frio que aqui…). manchas podem ser resíduos de polimento, segundo virves, pó de rouge foi um pesadelo. atualmente faz tudo com um polidor polonês de metal (autoglym) do início ao fim. o polimento final é feito com um tecido de camiseta de algodão ou pano de limpeza de microfibra. disse que o autoglym é ainda áspero, deixa um pouco de marcas, mas evita as manchas dos pós de polimento. para o cobre, utiliza uma politriz orbital com um pó bem áspero primeiro (400grit), mas o autoglym volta a deixá-la brilhante. terminou comentando que “há muitas maneiras de fazer… qualquer coisa. e cada mestre tem suas próprias técnicas. se funcionar, funciona.”

virves comentou que aprendeu tudo sozinho, pesquisando na internet, dialogando com porkalla, que também começou a pesquisar esse processo mais ou menos na mesma época… creio que é por aí… cada um vai achando seu jeito, com os materiais que dispõe… mas essa troca, esse diálogo, esse apoio e ajuda é muito importante para abreviar um pouco o caminho, que é muito muito longo.

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