apresentação para Universidade do Algarve

a convite da querida Camila Mangueira, hoje fiz uma apresentação para os alunos da Universidade do Algarve. a disciplina orientada pela Camila se chama Arquivos Digitais e Analógicos e é focada na discussão dos arquivos e documentos de criação artística. segundo ela, ‘dentre as questões mais centrais está a de como lidar com a documentação da criação e a relação obra final e processo’.

a ideia foi mostrar o processo de criação do meu mestrado até chegar na exposição na GAIA (Galeria de Artes do Instituto de Artes), na Unicamp.

registro feito por Patrícia Dourado, colega de trabalho de Camila, que assistiu a apresentação diretamente da Universidade do Algarve, no telão da classe 💗

eu sinto que essas conversas são sempre muito legais pra mim (torço muito para que sejam boas para quem me ouve também). falar é se ouvir, e às vezes as perguntas feitas me respondem a respeito de outras questões.

fico super pensativa depois e sempre saio dessas conversas cheia de respostas. ❤️

depois da aula fui dirigindo para o meu local de trabalho pensando na pergunta que uma aluna fez sobre o assunto que eu fotografo, minhas escolhas sobre os temas, em suma: o referente. a resposta que dei a ela, me responde o motivo por eu fazer daguerreótipos contemporâneos… o ato fotográfico no meu trabalho sempre foi uma fração muito pequena do tempo que dispendo antes e depois do ‘clique’. o processo ocupa mais meu tempo, meu pensamento e minhas intenções. é como se o assunto (o referente) fosse de certo modo ‘menos importantes’, por que o principal é toda a materialidade envolvida na construção daquela narrativa. o processo é tão imprescindível que ele de certo modo ‘condiciona’ um pouco do que será o referente na imagem fotográfica. por exemplo, no caso do trabalho do mestrado, eu usei uma única imagem fotográfica pra todos os anthotypes que aparecem no trabalho. e confesso que fiquei um tempão pensando que imagem seria, quando durante todos os testes eu usava uma imagem de um urubu pousado no ver-o-peso. às tantas, me dei conta que era essa imagem mesmo que deveria ser ‘a foto’, pois o processo diz respeito a efemeridade, sobre ciclos de vida-morte, sobre o que fica do que se apaga, e o urubu é um animal que carrega toda essa simbologia de transformação da matéria. no doutorado, a materialidade da imagem (cobre, prata, ouro) me levou a pesquisar sobre alquimia, que carrega uma série de imagens simbólicas interessantes que tem me inspirado a fotografar. é novamente o processo conduzindo o assunto registrado, o referente.

nas minhas respostas eu até fugi um pouco do tema da aula e falei um pouco do doutorado, porque eu ando com muita vontade de conversar sobre a pesquisa com os daguerreótipos. cheguei até a pensar em fazer uma live, sei lá… algo como foi o café fotográfico em que eu faço um relato de trajetória. essas apresentações e diálogos me ajudam tanto!

falei de minha opinião sobre o uso excessivo de jato de tinta de pigmento mineral sobre papel de algodão para apresentação de fotografias no contemporâneo (mesmo quando as imagens são do século XIX ou XX), quando a Camila me perguntou sobre a convivência e combinação de arquivos digitais e analógicos nesse meu trabalho do mestrado. apesar disso, usei esse tipo de impressão para as imagens microscópicas, mas não quis reproduzir os anthotypes e expor impressões jato de tinta – que são mais permanentes – porque não faria sentido já que o trabalho justamente diz sobre materialidade e efemeridade dessa mesma matéria. (o que eu fiquei pensando depois é que eu fui ao extremo dessa vez no doutorado escolhendo a dedo um processo que nem sequer é reprodutível – o brilho espelhado do daguerreótipo só pode ser visto e apreciado quando se está diante da ‘coisa em si’).

gostei também do comentário de outro aluno, em que falou que ele poderia fazer uma leitura essencialista (acho que foi esse o termo que ele usou) da minha produção, por eu insistir em apresentar ‘a coisa em si’. talvez em certa medida, eu seja… mas acredito que ele entendeu as delimitações que eu dei e quando assumi que elas (as jato de tinta) poderiam entrar para compor e quando elas não poderiam entrar por que seriam apenas meras reproduções fora de contexto. ao responder essa pergunta, fiquei pensando que se eu trabalhasse com pintura, talvez eu fizesse obras pouco figurativas… estaria interessada no gesto empregado, no acúmulo de tinta, nas qualidades plásticas dos materiais. isso é uma discussão pouco construída na fotografia, que tem uma relação muito importante com o referente desde sua invenção e que na sua história teve mudanças materiais muito mais pautadas nos critérios de redução de tempo de exposição à luz, de sua permanência/resistência e na diminuição de custos do que em suas características plásticas.

para mim a fotografia é tudo: é o assunto fotografado e tudo aquilo que compõem a imagem, pois faz parte da narrativa que se apresenta em forma de imagem.

enfim mil coisas ❤️

muito feliz e agradecida pelo convite e pelas trocas.

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anthotypeday 2022

quando vi o anúncio sobre o dia do anthotype, já logo pensei em falar com a beth lee para fazermos algo juntas, como foi no cyanotypeday 2021. aliás, foi justamente nesse evento do ano passado que pude trocar alguns e-mails com a Malin Fabbri, e ela me contou que estava interessada em criar o anthotypeday. nessa conversa falei sobre as fichas que costumo usar com meus alunos, enviei a ficha e ela adotou os itens para usar numa base de dados que ela pretende criar. ela também me perguntou em qual época do ano era mais propícia para um dia do antotipo, e comentei que eu fazia anthotypes durante o ano todo no Brasil.

enfim, data marcada, 20/8/2022 seria o anthotypeday 2022, o tema era esperança/hope, e a beth topou fazer um trabalho em parceria ❤️ é sempre mais divertido participar desses eventos juntas ❤️

ficamos divagando sobre o tema e a Beth falou da caixa de Pandora, que guardava a esperança. daí me lembrei da carta da estrela, do tarô mitológico, que traz esse mito.

daí pensamos em fazer uma ‘colagem’ com transparências. a beth fez a foto da caixa aberta e eu procurei arquivos vetoriais de insetos sortidos. fizemos aquele planejamento desenhado e imprimimos as transparências pra nos encontramos duas semanas antes do dia do anthotype, pra dar tempo do pigmento desbotar ‘com calma’.

ficamos decidindo qual pigmento usar. optamos pela clitorea ternatea (azul) e pela serragem de pau-brasil (rosa)… depois achei um tanto quanto erótica e bem heteronormativa essas nossas escolhas, ahahaha. faríamos os dois e depois escolheríamos uma para enviar para o chamamento. tínhamos pensado em fazer imagens misturando pigmentos, mas por fim acabamos não fazendo (ou pouco por conta da contribuição na base de dados, um pouco por esquecimento mesmo, rs).

passamos a tarde preparando os papéis e recortando insetos nas transparências. tanto eu quanto a beth tínhamos serragem de pau-brasil, e testamos com os dois, que deram resultados completamente diferentes. o meu, que ganhei da assistente da Flávia Aranha (tintureira que tem uma loja de roupas com tingimento natural), resultou em camadas muito mais transparentes. receio que aquela serragem já tinha passado por algum tipo de processamento prévio. o pau-brasil da beth resultou em camadas com cores bem mais intensas.

preparamos tudo e nos deparamos com uma questão: as contateiras não cabiam nos saquinhos ziplock e fiquei com receio de entrar água caso chovesse (que foi o que aconteceu em quase todos os dias, desde que colocamos as contateiras na varanda do estúdio). improvisamos com magipack, e com um ziplock dentro do outro, mas ao longo dos dias, entrou água em algumas.

seguimos com paciência e a esperança da caixa de Pandora. os anthotypes demoraram MUITO para desbotar. os dias estavam nublados, frios e chuvosos em São Paulo nas duas semanas em que as imagens ficaram na varanda sendo expostas. confesso que não achei que daria tempo. deixei até as contateiras em cima da cadeira, de ‘castigo’. 🙂

por fim, 2 semanas depois, mesmo sem ter certeza de que eles tinham desbotado o suficiente, abrimos os dois frames e foi surpreendente e maravilhoso ver que os anthotypes dos dois pigmentos tinham ficado muito excelentes!

a quantidade de detalhes nos deixou bem satisfeitas com o trabalho. bem como o aspecto aveludado do pigmento do pau-brasil.

mesmo as linhas mais fininhas do positivo impresso em impressora comum (inkjet) apareceram super nítidas. as margens recortadas das transparências, que normalmente aparecem, dessa vez não apareceram… o que deixou a imagem ainda mais ‘limpa’.

escolhemos enviar o de pau-brasil, afinal, é uma planta nativa, que deu nome ao país.

fiz um videozinho com todo o processo, que pode ser visto aqui:

nossa contribuição para o banco de dados e participação no anthotypeday 2022 já está no ar e pode ser acessado aqui. a galeria da evento pode ser acessada aqui.

Common name of plant and latin name of plant: Pau brasil, Paubrasilia echinata.
“Title”: “Pandora’s box” by Elizabeth Lee and Simone Wicca.
Parts used: Stem powder (sawdust).
Application: Cotton ball.
Exposure time: 2 weeks (cloudy and rainy days)
Country, months, season and year: Brasil, august, winter, 2022.
Substrate: Canson Montval.
Rating of emulsion: Good.
Amount: 5g = 6 teaspoons in 20mL hot deionized water.
Extracted using: infusion.
Thinner: deionized water.
Layers: 7 layers.
Used to create image: Inkjet transparency printed positive.

Challenges or observations: Could have been exposed a few more days, because these days were very cloudy and rainy.

Your Instagram: @a.beth.lee @daguerreotipista

Any additional information you would like to share:

www.bethlee.wordpress.com 

www.simonewicca.wordpress.com

café fotográfico na fotoAtiva

recebi o convite para contar um pouco sobre o meu trabalho autoral no café fotográfico organizado pela FotoAtiva.

vai acontecer na próxima segunda (18/10/21, às 19h (GMT-3)) e terá a mediação de Evna Moura.

nessa conversa vou contar um pouco do processo de criação do meu trabalho de mestrado na Unicamp. apesar do título da minha dissertação ser efêmera – experiências visuais com pigmentos de plantas, breve história da natureza dos pigmentos foi o nome da instalação que apresentei na GAIA Unicamp, em janeiro de 2019, na ocasião de defesa do mestrado.

gosto das brincadeiras possíveis com desdobramentos dessas palavras: história dos pigmentos breves da natureza. pigmentos da natureza e histórias breves. natureza breve dos pigmentos da natureza… e por aí vai… ❤

é só colar no YT da Fotoativa!

Pode ser uma imagem de texto

experiências fotossensíveis a partir de pigmentos de plantas e vivência de pão de fermentação longa

são duas atividades pra observar e refletir sobre o respeito ao tempo de transformação das coisas.

na primeira darei dicas de como alimentar o fermento (levain), amassar, aguardar crescer e assar o pão. dicas que volta e meia meus amigos e conhecidos me pedem quando veem ou provam meus pães. em 4 horas de atividades faremos esse passo a passo e mostrarei como faço meus pães. os participantes colocarão a mão na massa e no final levarão um pão para crescer e assar em suas casas, além da ‘isca’ de fermento para seus futuros pães.

a segunda é a já conhecida oficina de anthotypes ou ‘experiências fotossensíveis a partir de pigmentos de plantas’, que já ofereci na Unicamp, na fotoAtiva, no IMS paulista e que dessa vez vou realizar no meu estúdio na lapa. serão 3 dias de atividades em que faremos imagens fotográficas efêmeras a partir de pigmentos de folhas, flores, raízes e frutos. os participantes experimentarão diferentes pigmentos e levarão os frames para tomar sol em suas casas de uma aula para a outra, quando poderão observar os desbotamentos diariamente.

abaixo, mais informações sobre datas, custos e inscrições.

O que: vivência: pão com fermentação lenta

Quando: 6/4, segunda, das 10h às 14h

Vagas: mínimo de 3, máximo de 6.

Onde: no estúdio lab tito, na rua tito, na lapa, em SP.

Quanto: R$ 100,00.

Inscrições: a inscrição é feita mediante depósito bancário. envie e-mail para estudiolabtito@gmail.com

O que: oficina: experiências fotossensíveis a partir de pigmentos de plantas

Quando: dias 20, 27/4 e 5/5, segundas, das 19h às 22h.

Onde: no estúdio lab tito, na rua tito, na lapa, em SP.

Quanto: R$ 350,00.

Vagas: mínimo de 3. máximo de 6.

Inscrições: a inscrição é feita mediante depósito bancário. envie e-mail para estudiolabtito@gmail.com

sobre desistências ou cancelamentos: a desistência do participante com 15 dias de antecedência terá reembolso do valor da inscrição menos uma taxa de R$50,00. não haverá reembolsos para desistências a menos de 15 dias do início da oficina. em caso de cancelamento das oficinas por parte da organização, haverá o reembolso integral dos valores pagos. a organização poderá fazer e usar fotos e vídeos dos participantes para uso educacional e promocional.

tira-olhos

nessas férias voltei pra portugal (!!!). há alguns meses a Camila (Mindu) tinha me convidado pra escrever um texto em parceria para enviarmos ao #18.ART. achei a proposta interessante! escrever junto, simultaneamente, permite diálogos muito ricos. infelizmente eu tinha férias marcadas para setembro, o que impediria que estivesse presente na apresentação, mas resolvi dar uma chance para o imprevisível, e eis que surgiu um projeto no trabalho que me exigiu alteração de férias. e pude ir.

sobre o #18.ART, escreverei um post específico. fato é que o encontro promoveu outros encontros.

o guilherme maranhão está mudando para Braga, e sabendo da nossa presença, agendou uma das entrevistas sobre fotografia portuguesa em Lix para o momento em que estivéssemos lá.

ele estava empolgadíssimo com o encontro, pois era assíduo leitor do blog da entrevistada. e apesar de eu procurar espaços e pessoas ligadas à fotografia analógica sempre que vou pra portugal, minha dificuldade com o inglês acabou criando esse hiato. não conhecia o blog e nem a autora. mas tive sorte que o guilherme fez essa ponte (a entrevista pode ser vista aqui). daí descobri que o espaço do trio de fotógrafos (sofia silva, autora do blog e entrevistada do guilherme; paula lourenço; e alexandre de magalhães) abriria – por uma feliz coincidência – num final de semana em que eu ainda estaria por lá. notei na agenda e lá fui.

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a tira-olhos é uma associação de fotografia experimental. eles três são professores universitários e num dado momento de suas carreiras sentiram falta de ter um espaço com laboratório onde pudessem fazer suas produções em fotografia e que pudessem também oferecer cursos de forma mais livre (fora do contexto acadêmico). em 2018 começaram a saga para achar o lugar e abriram suas portas em 27/10/2019. a sofia conta dessa aventura aqui em seu blog.

conversando com a sofia percebemos que estivemos recentemente em estágios muito semelhantes da procura e montagem do ateliê. de repente conseguir uma pia nos faz pensar que resolvemos um grande problema, e há o momento da paixão pelas torneiras. o sistema de exaustão/ventilação ainda é um item a ser resolvido no meu lab e no dela.

conversamos sobre anthotypes, pigmentos variados, tingimento e outras cores. plantas daqui, plantas de lá. dissertação, minha piração com a biologia. a Sofia contou um pouco da fotografia terapêutica e seu desejo de montar um grupo em lisboa. ela também tem um lado têxtil muito forte em suas produções (eu deixei a minha produção com os teares, máquinas de costuras, linhas e agulhas, guardado em algum cantinho, e vez ou outra esses fazeres reaparecem). na entrevista ela chega a comentar que o bordado é algo mais constante em sua vida que a fotografia. a escrita e o bordado. ela também borda sobre fotografias.

com a paula e o alexandre conversei sobre ambrótipos, ferrótipos, daguerreótipos. falamos sobre como produzir placas de prata, do dia em que ‘o rené smets olhou pra mim’, e de outras químicas. o legal desses encontros é que sempre rolam umas trocas. a paula me perguntou sobre como fiz a colorização de alguns ferrótipos/ambrótipos e ela me deu uma dica de uma cera para metais (e me passou inclusive endereço de onde encontrar em lisboa) que ela utiliza no lugar do verniz. enquanto falávamos, o guilherme brincou que “ao dizermos ‘fiz um becquerel’ damos ao outro muitas pistas sobre o que andamos fazendo no nosso último ano”. a reflexão dele sobre essa conversa, está publicada aqui.

foi uma tarde muito agradável.

coisas como essas me fazem pensar sobre tudo o que não acesso por não ter facilidade com o inglês… algo a ser refletido… e revertido.

📷 Sofia Silva|Laura Nadar. mais uma pra minha coleção de ‘piscos’ 😌

o trio de artistas oferece cursos de fotografia experimental com práticas no laboratório bonito que eles montaram no andar de baixo do ateliê. para quem está na cidade e deseja aprender sobre fotografia analógica, recomendo vivamente.

agradeço ao guilherme pelo encontro. foi muito bom! é um lugar para onde quero voltar outras vezes e pessoas com as quais sinto vontade de continuar as trocas e os diálogos.

a tira-olhos fica na rua jacinto nunes, 8b, em lisboa.

aqui é possível ver a agenda de cursos programados.

💙

p.s.: tira-olhos (segundo googlei) é uma espécie de libélula. 🙂

efêmera – experiências visuais com pigmentos de plantas

e publicou!

agora minha dissertação de mestrado já está disponível no repositório da unicamp.

para acessá-la é só clicar aqui ó!

 

uma felicidade: é possível localizá-la no sistema de bibliotecas da unicamp digitando ‘simone wicca’ na busca.

outra felicidade: pesquisei pela palavra ‘anthotype’ e por enquanto localiza apenas a minha dissertação sobre esse assunto. espero poder contribuir na investigação de outros pesquisadores que tenham o desejo de conhecer um pouco mais sobre esse processo fascinante.

 

defesa |argumentação

hoje finalmente consegui tempo para ouvir o áudio do dia da defesa. aliás, defesa é um termo muito esquisito. especialmente ao falar sobre mestrado em poéticas visuais. fui até procurar um sinônimo, e o melhor que achei foi esse: argumentação.

devo dizer que todo o processo de mestrado foi absolutamente tranquilo, diferente do que aconteceu com colegas próximos, o mestrado foi meu momento de sanidade, meu tempo para olhar para coisas que me são muito importantes, pr’aquilo que é pessoal e intransferível. confesso que só dei uma ‘pirada’ nas últimas semanas, por que esse termo defesa, e essa ideia de avaliação mexem com coisas muito fundas na minha psiquê. e deu margem para muitas conversas com minha ‘mulher da cabeça’ (vulgo, terapeuta) sobre esse pânico que envolve me sentir exposta e lidar com a necessidade de uma aprovação externa para validar minhas conquistas pessoais. enfim, papo longo no qual não vou me aprofundar aqui.

queria fazer esse post para contar sobre esse momento, esse rito de passagem que foi a defesa do mestrado.

no final de semana anterior à data até desenhei a disposição da mesa, pois a defesa seria dentro da galeria e minha banca ainda não tinha visto a instalação, portanto queria que o espaço ficasse livre para que pudessem transitar antes da defesa.

na verdade, meu desejo era que nos meus 20min de explanação eu pudesse ser uma visita mediada na instalação, onde falaria sobre o processo todo do trabalho mostrando cada coisa a seu tempo. infelizmente a formalidade acadêmica não permitiu. afinal, não foi ruim, pois me vi criando um resumo narrativo de como contaria o processo.

sim, isso é um resumo. sim, falhei miseravelmente na tentativa de ser sucinta.

para minha banca convidei o Edson do Prado Pfutzenreuter e o Wladimir Fontes. o Edson trouxe referências e reflexões importantes na qualificação e quis muito contar com o olhar dele nesse momento de defesa, sabia que ele faria apontamentos fundamentais sobre o meu texto. o Wladimir esteve na minha banca de TCC, 17 anos atrás, e eu tinha uma memória muito vívida e positiva de suas contribuições naquele momento, pois ele sempre traz o olhar do artista que é, com um viés super filosófico, fala de um ponto de vista bem visceral, profundo, mas delicado e generoso ao mesmo tempo, e isso me agrada e enriquece demais.

achei interessante como o wladimir falou de todas as referências teóricas. ele falou da interdisciplinaridade do trabalho, que se relaciona com várias áreas do conhecimento humano. ele comentou que ‘falou’ com muita gente enquanto lia meu trabalho: “órficos e pitagóricos, Apólo e Perséfone, Goethe te deu um tchauzinho, Anna Atkins mandou lembranças, Blosfeldt também, aqui da casa (Campinas) Hércules Florence mandou dizer que estaria presente. e um, que estranhei, mas que também apareceu de alguma forma, foi o Auguste Comte, que mandou um recado: ‘amor, ordem e progresso'”. o que seria o progresso que comte comentou com o wladimir? num dos capítulos falei sobre a história da fotografia e a ‘evolução’ na invenção dos processos fotossensíveis. talvez seja difícil usar essa palavra quando se tratam de fotografias. apesar de eu ter sinalizado que esses ‘avanços’ não consideravam as materialidades dos processos, mas apenas o assunto registrado na fotografia, e que tinha como objetivo apenas o baixo custo e a rapidez de captura, ficou esse estranhamento. creio que consegui argumentar que minha reflexão partiu exatamente do questionamento sobre a falta de pensamento dos suportes e materialidades na história da fotografia e que isso tem sido explorado apenas na contemporaneidade. de qualquer modo, foi um ponto de atenção para mim.

seguindo nessa toada filosófica, Wladimir trouxe uma afirmação de Anaximandro: ‘Tudo o que é, um dia vai não ser’. E aproveitou o ensejo para me fazer a pergunta mais difícil e mais poética da defesa: Para onde vai a cor que desbota? A cor evapora? Se transforma em luz?

foi bonito como ele descreveu que eu fui investigar a indústria – a fábrica – do pigmento vegetal, da cor da flor, e ensino que existem ‘flores pintadas a óleo e flores de aquarela /guache’, e que ele nunca mais olhará as flores da mesma forma.

fez também uma pergunta, pois viu que eu sempre retorno a uma questão sobre a imagem nos dias de hoje: apesar de ter como semelhança ter um tempo breve, qual a diferença entre imagem efêmera e imagem descartável?

filosofou sobre a contradição: ‘a vida não seria a matéria que quis permanecer? por que ela quis ficar? é como se o carbono tivesse vontade própria. e se as coisas não deixam de existir, mas se transformam, isso não seria uma contradição ao que afirma Anaximandro?’.

falou de estudos de Bergson sobre seres e organismos vivos que se orientam pela luz. e salientou que o mundo vegetal é totalmente relacionado à luz: luz e água.

falou também sobre a presença do desenho no trabalho. disse que o desenho é projeto. que ele unifica a pesquisa visual. e que não entende por que eu digo que não sei desenhar, que isso pode ser falsa modéstia minha ou talvez isso parta de um rigor interno, dentro de uma qualidade onde eu gostaria de chegar. o desenho unifica, e nas decisões, o desenho é pensamento e linguagem.

ele observou que no laboratório da ciência (Instituto de Biologia) eu vi um ateliê de artista, me atentei para a cientista (bióloga Sandra) que tem a habilidade de artesã, descrevi seus gestos minuciosos narrando sobre como trabalhava com suas mãos.

sobre a artesania o Edson também mencionou uma citação de Anaxágoras ‘a homem pensa por que tem mãos’. ele falou sobre o artigo de Freud sobre o valor do efêmero como raridade, que é um texto que fala da efemeridade no contexto da guerra.

durante a leitura da dissertação ele lembrou de algumas referências e foi enviando por e-mail, o que é um diálogo lindo, já que a pesquisa não encerra com a entrega do texto. senti vontade de ter mais essa proximidade, esses diálogos durante o processo. quem sabe no doutorado?

vale a pena mencionar que o Edson começou sua fala lembrando de uma situação de quando eu estava no Senac (provavelmente no ano 2000, 2001): eu estava fazendo um trabalho em que fotografava em cada frame de um filme para slide 35mm uma letra (procurei algumas placas na rua). a ideia era revelar o filme e colá-lo na bobina de modo que a pessoa puxasse a pontinha, o filme fosse saindo e uma frase se construindo. ele lembrou que já nessa altura eu estava pensando na materialidade do suporte e nas suas características para fazer o trabalho. lembrou que naquela ocasião ficou pensando que era um trabalho poético e rigoroso, que exigia planejamento e cálculo. e que esse rigor segue comigo até hoje.

falou da questão da efemeridade ser relativa a um escala de tempo. sobre isso, respondi que é uma reflexão que me ocorreu também e que tive algumas conversas a esse respeito com o Roger. presumo que minha escala de efemeridade é a escala da vida humana.

o Edson também falou sobre a deterioração ser um ponto de vista daqueles que querem que as coisas permaneçam sem mudar.

a respeito de eu dizer que não fazia desenhos científicos, nem lâminas histológicas ‘corretamente’, comentou que alguns artistas muitas vezes são uns amadores de tudo e uns ‘profissionais’ de nada.

refletiu que a percepção do artista perante o objeto varia de acordo com sua intenção, tanto quanto dos cientistas. no laboratório de biologia, minha percepção era diferente da dos biólogos, mesmo quando olhávamos para a mesma coisa.

além disso, falou sobre ajustes importantes no texto que eu estava mesmo a espera e também pude perguntar a respeito de algumas citações que eu coloquei e se estavam incômodas por serem muito extensas.

falamos um pouco sobre alguns tempos verbais que aparecem meio ‘errados’ no meu texto. pude contar sobre a metodologia que usei para a escrita: escrevi posts semanais sobre a pesquisa, num dos posts (aquele sobre a palestra do Dubois) eu criei o que seria o sumário, depois encaixei os posts em cada ‘capítulo’ e por fim, vim costurando (e em alguns casos, esquecendo de ajustar tempos verbais no passado, já que tudo estava sendo escrito principalmente no presente ou como conjecturas sobre o que viria a seguir). falamos sobre a narrativa acadêmica em poéticas visuais, e como ela difere da escrita acadêmica tradicional.

por fim, minha orientadora falou sobre a tranquilidade que sentiu em me orientar (ou não orientar, como ela colocou). de fato, a Ivanir me deu toda a liberdade para seguir com minhas pesquisas e com meu trabalho autoral, e isso foi muito importante. eu já estava distante do meio académico desde 2002 e ela me acolheu com leveza, o que foi fundamental para que o mestrado fosse agradável pra mim e a pesquisa fluísse de forma natural.

e fui aprovada! sem ressalvas.

descobri que existe algo chamado de pós defesa. vou ajustar algumas palavras do texto e acho imprescindível que no trabalho constem imagens da implantação da instalação no espaço da galeria. com isso, vou precisar mexer no último capítulo (considerações finais). nada muito drástico, mas fazer esse mergulho agora que já não tenho a bolsa horas fica mais apertado nos tempos. 60 dias passam voando.

e no meio disso tudo, eu ainda gostaria muito de trabalhar num pré-projeto de doutorado.

já iniciei uns testes para avaliar a viabilidade de realizar daguerreótipos no Brasil (com temperaturas de 30oC e luz intensa do nosso verão tropical). estou animada! nas recentes experiências que Roger e eu fizemos, já conseguimos imagens nos primeiros testes!

bem… vou nessa!

você não pode passar o dia sem saber que…

ontem, 25/1/2019, #essediafoiloko

estava super chateada por ter me desencontrado da larissa na GAIA e hoje conversamos mais a respeito. segundo ela, ela ficou até feliz pq pode ‘se emocionar’ a vontade 🙂

e ela me deu um presente maravilhoso. ela tem algumas séries de postagens nos stories (confesso que não tenho paciência pra muitos stories, mas os dela são reflexões que eu adoro) que eu acompanho com afinco: teve o ‘tratado das oportunidades’, mais antigo; o ‘tentativa de dicas good vibes’, sempre ligado a alguma música que você pode/deve ouvir no Spotify; teve também uma enquete sobre ‘musica/sedução/supera paixão’ que resultaram em playlists que volta e meia ouço no carro (desde que descobri que Spotify tb é uma rede social 😮). há algum tempo ela tem feito uma nova série que chama ‘você não pode passar o dia sem saber que’ que começou com ‘você não pode dormir sem saber que’.

isso pra dizer que ela fez uns stories com reflexões sobre a visita dela na minha instalação ontem. e eu estou só emoção… pq… uma amiga que mergulha na sua produção e faz uma reflexão profunda e precisa dessas, bixo… é um presente, uma dádiva! 💗

seguem abaixo:

a lari é super atenta e sensível, e adorei saber das reflexões que o trabalho suscitou nela. em vários momentos me sinto muito hermética nas minhas produções, e ver que ele comunicou com precisão assuntos que de eu queria mesmo trabalhar é muito recompensador.

💗

metalinguística infinita

Miguel me mandou um e-mail dizendo que gostaria de ir na GAIA, e me pedia orientações sobre o transporte local na Unicamp. Expliquei que a locomoção entre rodoviária de campinas e a Unicamp com transporte público era meio demorada e complexa.

como gostaria muito que ele visse meu trabalho do mestrado, combinei com o Miguel Chikaoka de fazer o traslado dele sorocaba-campinas-sorocaba para ele visitar a instalação lá na GAIA.

foi uma honra poder acompanhá-lo na instalação, vendo e fotografando as gavetas, os cadernos. me perguntou sobre as fotos microscópicas, com qual câmera fiz, como acoplei, etc. expliquei que a única coisa mais sofisticada necessária para fazer a foto microscópica era um momento bem zen, de concentração, com um exercício de respiração suave para poder segurar o celular em frente à ocular do microscópio no lugar ideal, achar o melhor posicionamento, não tremer, prender a respiração por um segundo e clicar. ele próprio realizou essa experiência ali, ao vivo.

ele elogiou a montagem, disse que olhar as gavetas foi interessante para pensar sobre essa interferência que o tempo e o oxigênio fazem nos pigmentos. que esse olhar pra dentro da matéria prima, no caso os pigmentos, permite esses devaneios sobre essa essência e sobre a natureza das coisas (‘como se forma a água dentro dos cocos, presos no alto do coqueiro, que em si é uma árvore mais “seca”, e normalmente está em locais muito quentes?’).

ele reconheceu na matriz dos anthotypes o ver-o-peso, o urubu. e comentei que essa imagem do urubu à espera, pousado sobre o ver-o-peso se ‘impôs’ nesse trabalho. durante meses procurei o que seria a matriz para minhas experiências em anthotypes, e segui utilizando essa imagem que eu tinha impresso em transparência há um tempão. num primeiro momento até imaginava que os padrões das células vegetais vistas ao microscópio pudessem gerar essa matriz, mas desisti por achar que elas eram interessantes registradas convencionalmente (com celular, em cores) e que ao ser transposta para a técnica anthotype, que forma imagens sutis e com baixo contraste, perderiam muito de sua potência. o urubu seguiu ficando ficando ficando… e mais para o fim do trabalho, entendi que simbolicamente ele fazia um imenso sentido, afinal, a conversa toda é sobre perdas, mortes, efemeridades e apagamentos, e ele, como símbolo de transmutação, tem um papel importante ao participar desse ciclo de transformação da matéria orgânica.

foi muito legal ver o Miguel reencontrar com papéis emulsionados com pigmentos de açaí recolhidos e macerados por ele quando estive em belém, e ofereci um curso de ‘anthotypes – fotografia feita a partir de pigmentos de folhas, flores e frutos da Amazônia ‘, em 2015. nos blog-livros tem essa postagem impressa. ele fez uma foto. continuo naquela chave cíclica: fotografei o Miguel com os papéis emulsionados fotografando o Miguel com papéis emulsionados. essa loucura metalinguística infinita.

Miguel reencontra os pigmentos

fotografei o Miguel e os pigmentos fotografando Miguel e os pigmentos na reprodução desse blog onde agora posto sobre o post.

ao chegar em Sorocaba, vi a mensagem de que a Larissa Meneses estava na GAIA e nos desencontramos por alguns minutos. 💔 sobre a visita dela, escreverei um post a seguir.

e ao chegar no sesc onde o Miguel daria aula, e ver a exposição ‘atravessamentos’, sobre a trajetória da associação fotoativa, que está em cartaz no sesc sorocaba, encontrei uma imagem de Jorge Ramos que me fez lembrar demais da Camila Mindu Mangueira, e de nossos diálogos e trocas desde 2002.

registro de imagens da exposição atravessamentos

foto feita pela Mindu, que permanece na porta da minha geladeira desde 2002, quando a recebi da Camila Mindu, numa das muitas correspondências que trocamos.

a Camila, que acompanhou muito de perto o processo todo do mestrado, fez a meu convite o texto de apresentação da instalação. sempre nos gabamos da sorte de nossos caminhos terem se cruzado há tanto tempo e nunca termos nos ‘perdido de vista’. ainda sobre sorte: achei poético que ao diagramaram o texto para a parede, bem no centro das palavras dela (‘em contato’), há a imagem de um trevo ☘️

ô sorte!

matéria viva

hoje fui até a GAIA com a Beth Lee. ela visitaria a instalação e eu poderia fazer alguma manutenção, caso necessário. confesso que tinha particular interesse em observar duas coisas: a cúrcuma que está no Becker, na prateleira 2, e um balão volumétrico da azaleia, que na semana passada observei que estava com um mofinho.

as coisas seguem por lá. o crescimento do fungo/mofo no pigmento deu uma estacionada e a cúrcuma parece ter gostado do ambiente e luminosidade. deu uma espichada e segue crescendo bem. estou curiosa, porém apreensiva que ela fique pesada sobre o pequeno Becker de 50mL. caso as folhas comecem a abrir, possivelmente eu substitua a cúrcuma do Becker por outra recém brotada, e plante a que agora está lá, mantendo no espaço expositivo. seguirei observando 🙂