chá revelação

há um tempo atrás estava conversando com a beth lee de que poderíamos oferecer uma espécie de demonstração de como revelar filmes preto e branco no meu estúdio. uma coisa bem introdutória mesmo, na qual prepararíamos os químicos em frente aos interessados e relevaríamos o filme falando brevemente sobre cada uma das etapas. a ideia era dar recursos para aqueles que desejam revelar seus próprios filmes em casa, mas não sabem muito bem como.

num momento seguinte, o roger sassaki comentou comigo que estava pensando em abrir umas datas no ateliê dele em que deixasse todo o lab pronto para aqueles que desejam revelar seus filmes, que já sabem revelar, mas não tem a estrutura, nem os materiais. ele cobraria um valor similar ao cobrado por quem faz revelação sob demanda, por que a ideia era atrair quem de fato sente prazer em revelar seus próprios filmes.

daí eu meio que juntei as duas coisas. propus que no primeiro horário tivesse uma mini aula e a tarde fosse só revelação para quem já soubesse, ou que tivesse feito a mini aula. a beth e eu no primeiro horário daríamos a mini aula e o Roger administraria o lab com as pessoas já experientes em revelação, no segundo horário.

daí ficamos no brainstorm do nome e o roger chegou no nome/piada ‘chá revelação’, já que ele ofereceria chá gelado ou quente (a depender da temperatura do dia).

fiz uma brincadeira com os modelos de convite padrão para chá revelação (do sexo dos anjos) substituindo o ‘vamos descobrir juntos?’ por ‘vamos revelar juntos?’, e o ‘traga um pacote de fraldas’ por ‘traga seu filme 35mm ou 120 fotografado’ 🤣

nos surpreendemos que tivemos mais inscritos justamente na mini aula, que não foi muito mini por minha culpa. eu explico: calculei mal o tempo da aula. ela funcionaria se fosse só uma demonstração, mas como foi uma aula completa, em que cada um enrolou o próprio filme na espiral, estourei totalmente as duas horas previstas anteriormente 😬 por sorte, as pessoas estavam adorando (e aparentemente não tinham outros compromissos em seguida). da próxima vez eu prometo fazer uma demonstração de 2h30 ou uma aula não tão mini, com duração de umas 4h 🙃

mas que foi lindo, foi!

foi bem legal começar a receber no mesmo dia notificações (via Instagram) das imagens já digitalizadas pelos participantes satisfeitos e animados 💗 que nos marcaram nas publicações.

foi sucesso!

que venham outros!

PED Unicamp

esse semestre fiz parte do programa de estágio docência da Unicamp. me inscrevi e fui selecionada para acompanhar a disciplina de arte fotográfica II sob orientação do professor Dr. Filipe Salles.

foi bom estar nas aulas da graduação acompanhando o professor. os jovens tem muita vitalidade e brilho nos olhos nessa fase de aprendizado e nos ensinam bastante também. pude, junto com a outra ‘PED’, Letícia Rebeschini e do PAD Carlos Alberto Rocha, oferecer algumas aulas práticas.

apresentei uma aula sobre desdobramentos de pinhole e câmara obscura, em que mostrei adaptações curiosas e uso de objetos curiosos para a produção de câmeras pinhole e câmaras obscuras.

em seguida, em outra aula, fiz uma apresentação sobre lumen print e quimigramas. após essa introdução os alunos puderam fazer suas próprias experimentações com as técnicas.

também foi bacana acompanhar as aulas em que os alunos compartilharam a câmera 35mm para fotografar em filme ao ar livre, e em seguida o professor fez uma demonstração de como revelar o filme preto e branco, e depois ampliar as fotos.

pude acompanhar também as aulas de light painting que a Letícia ofereceu para o grupo e que foram um sucesso.

por fim, dei uma aula falando sobre processos de captura fotográfica do século XIX e mostrei ambrótipos, ferrótipos e daguerreótipos. acho bem importante que os jovens fotógrafos ‘nativos’ digitais possam ter contato direto com esses objetos fotográficos. que eles possa ver ‘com as mãos‘, que possam tocar esses objetos feitos nessas técnicas e que não tem (ainda) valor museológico.

na apresentação final dos trabalhos, fiquei super feliz ao ver que alguns alunos escolheram fazer trabalhos analógicos ao término da disciplina. ❤️

foi uma experiência realmente gratificante participar do programa de estágio docência e conviver com o cotidiano da sala de aula da graduação, numa universidade pública de qualidade. ❤️ espero poder voltar em breve!

pinholeday 2023

esse ano beth lee, edison angeloni (câmera preta) e eu (simone wicca – EstúdioLabTito) nos juntamos para celebrar o dia mundial da câmera de orifício – o pinholeday!

nossa atividade será uma oficina onde falaremos dos princípios físicos e químicos da técnica, construiremos mini câmeras para captura de imagens de aproximadamente 4x5cm, e posterior revelação das imagens.

como parte da celebração vamos ‘femenagear’* nossa amiga fatima roque, que foi uma grande apaixonada pela técnica.

cola aqui que será sucesso!

fotografia com quase-nada 📌

domingo, dia 30/4. em SP (na rua tito, lapa)

turma 1: das 10h às 12h30

turma 2: das 14h às 16h30

R$ 80,00 (inclui kit + aula + 2 papéis). papéis adicionais R$ 5,00.

nossas câmeras podem ser acopladas só tripé, traga o seu! ❤️

inscrições: AQUI! (vagas esgotadas)

vem!

* femenagem no lugar de homenagem. ouvi esse termo pela primeira vez da kelly adriano, quando fizemos uma exposição em femenagem à raquel trindade, e achei o termo perfeito!

viajante no arkansas

o Roger foi convidado para ir colaborar com alguns projetos artísticos do Chuck Davis. a ideia inicial era conhecer o laboratório fotográfico recém montado por ele na cidade de rogers, e de certo modo “estressar” o espaço, fazendo vários processos históricos para verificar se tudo estava funcionando bem ou se precisaria de algum detalhe/ajuste e também fazer algumas saídas com o laboratório móvel para ferrótipos que ele instalou em seu carro. eu acompanhei o roger nessa viagem.

foi intenso! teve de um tudo: E-6 manual, C-41 manual, revelação filmes e chapas em PB, placa úmida (ferrótipo), produção de emulsão de gelatina, cobertura das placas e revelação de placa seca de gelatina, revelação de negativo de papel (calótipo), cianótipo na mesona de luz U.V., papel de colódio cloreto e… talvez eu tenha esquecido de alguma coisa.

nosso retrato na primeira tarde 🙃
passagem pro lab

tudo funcionou super bem ❤ o lab novo do Chuck é incrível e super bem equipado, e ele tem uma secadora de papéis toda desmontável, invejável, linda de matar (só senti falta de um suporte de papel toalha na parede, bem perto da pia, mas isso é pq ficar enxugando a mão/luva com papel toalha toda hora é tipo um vício pra mim no lab 😬).

Secadora desmontável

tivemos a oportunidade de sermos acolhidos na casa e pela família do chuck, passar o dia de ação de graças em família com eles (com todos os práticos típicos e a maravilha que é a cranberrie sauce feita pela alyssa!), e também de conhecer diversos fotógrafos da região (Adam Finkelston, Steve Wilson, Jon Onstot, Brioch, entre outros), fomos à hunter´s home e também ao museu crystal bridges.

comemos uma variedade imensa de pratos, e tivemos a sorte de sermos mimados pela Susan, que cozinhou vários dias pra nós (e ela me passou sua receita de panquecas americanas com abóbora ❤️) além de proporcionar diálogos instigantes sobre características culturais, memórias e recordações durante as refeições. contamos com todo apoio da Hilary na questão dos testes de covid (faltou Hilary nas fotos de monóculos 😢💔), com a disponibilidade de Nathan e de Alyssa para imprimir um artigo que eu precisava ler durante a viagem. com a animação do James (que propôs jogarmos UNO no thanksgiving) e da Olívia (que super se animou jogando folhas de outono na sessão de fotos para monóculos).

e teve o Chuck, um cara sensível e com percepção aguçada e assertiva, que me indicou conhecer o projeto da lucky star farm por considerar que se aproximava da minha poética. ele acertou na mosca! foi realmente fantástico conhecer o projeto de Donna e David.

Chuck e eu

como bônus, Chuck ainda me convidou para realizar um trabalho em parceria para uma exposição.

todos foram super pacientes com meu inglês ruim, e me deixaram bem confortável para falar errado a vontade! ❤

ganhamos presentes deliciosos para adoçar nossos dias, para equipar minha cozinha e nossos labs ❤️

mensagem em português ❤️

fiz poucas fotos analógicas na viagem. fiquei mais interessada em fazer panorâmicas com o celular novo. foi a empolgação com uma paisagem tão nova de outono, e a alegria de olhar tantos horizontes depois de ficar quase dois anos em quarentena no apartamento pequeno (olhando a vida acontecer só no monitor do laptop). o Roger se empolgou com a câmera (Made Up) dele, que sempre abria diálogos com quem a visse e também com a Olympus pen (half frame).

ainda estou processando toda a intensidade dos dias, mas queria deixar pontuado aqui no blog essa viagem tão especial.

ganhamos até um certificado de viajantes do arkansas! 💗

certificado de viajantes 💗

the hand magazine

muito feliz em saber que participo da próxima edição da revista The Hand Maganize!

#34 the hand magazine

foram selecionados quase 90 artistas de diversos lugares do mundo (talvez eu seja a única brasileira nessa edição).

eu soube dessa notícia maravilhosa enquanto estava na fila para tomar a segunda dose da vacina de covid-19. logo em seguida sofri com os efeitos colaterais da astrazeneca, motivo da minha comemoração um pouco atrasada dessa notícia tão legal 🙂

na edição #34 haverá uma entrevista com Minna Resnick, uma artista gravadora bastante inspiradora. a segunda entrevista será com Calvin Grier, responsável pelo The Wet Print. quem acompanha o trabalho de Grier já sabe o quando meticuloso ele é em suas impressões em transferência de carvão (carbon transfer print) ou em goma dicromatada.

estou super curiosa e ansiosa para ter a revista em mãos!

contar histórias…

não tô nem me cabendo em mim de tanta alegria de estar no pinhole day da Fotoativa amanhã (25/4, às 17h) num papo com Miguel Takao Chikaoka!

o convite foi pra contar histórias, então vou falar sobre vários projetos, de vários lugares em que estive (na firb, no sesc pompeia, no sesc ipiranga, em são josé dos campos, na rua, na chuva, na fazenda🎶) e nos quais me envolvi e participei dando aulas ou aglomerando muitas pessoas igualmente apaixonadas por fotografia analógica.

segue o fio: https://youtu.be/C_aShHMeXWs

quero deixar esse post aqui, para depois da fala poder ser uma referência para quem quiser achar novamente as imagens e videos.

bem, pra começar, minha primeira experiência com pinhole foi um pouco traumática. fiz um curso de fotografia em 1998 no sesc pompeia, com o sérgio ferreira, e ele pediu para a gente levar uma lata pintada de preto e com um furo numa das aulas. levei uma lata grande com um furo na base. e deu tudo bem errado. o espaço grande entre o furo e a tampa (onde ficaria o papel) fazia com que os tempos de exposição à luz fossem grandes e não consegui sair com uma boa imagem. e aquilo me auxiliou muito no aprendizado sobre fotografia. ali entendi que a pinhole poderia ser um ótimo recurso didático para aprender conceitos.

em 2002 eu trabalhava como professora assistente nas faculdades rio branco, e no curso de jornalismo tínhamos uma aluna surda. ela contava com uma interprete de libras para as aulas. isso não era muito comum em 2002. me aproximei da intérprete e conversávamos muito sobre como a fotografia poderia ser um ótimo recurso de expressão para pessoas surdas, que tem uma língua tão visual. conversamos sobre uma espécie de glossário de termos e como eles poderiam ser traduzidos em LIBRAS. a intérprete, roberta almeida, também trabalhava na escola especial para crianças surdas, e conversamos com as diretorias para estabelecer uma parceira entre as escolas para que os alunos da escola especial pudessem ir até o laboratório pb das faculdades rio branco para ter aulas de fotografia. nessa atividade os alunos aprenderam os fundamentos da fotografia, aprenderam a usar a pinhole e no segundo encontro fizeram as cópias positivas de suas fotografias. as fotos deles foram expostas no auditório da escola rio branco da granja viana, no evento anual do dia do surdo de 2002.

até essa atividade eu trabalhava como professora assistente, e esse curso me despertou a vontade de continuar dando aulas, o que me motivou a fazer o processo seletivo do sesc e começar a trabalhar no sesc pompeia em 2004.

quando cheguei no sesc pompeia estava programada uma grande exposição conceitual sobre fotografia na área de convivência (a foto dissolvida, curadoria de juliana monachesi). a patricia dini e a regina marques que trabalhavam nas oficinas me incentivaram a pensarmos juntas numa exposição sobre pinhole para ocupar os corredores das oficinas e montarmos uma grande programação integrada fotográfica.

chamamos 5 fotógrafos que além de exporem seus trabalhos foram convidados para dar aulas também (carlos marson, fatima roque, guilherme maranhão, marcos blau e ricardo hantzschel). escolhemos artistas que tinham abordagens em diferentes suportes em seus trabalhos (filme diapositivo, papel fotográfico colorido, papel fotográfico pb com cópias por contato, cópias ampliadas a partir de matrizes em papéis menores, etc). além das fotos, expusemos também algumas câmeras. eu ofereci cursos de pinhole em diferentes formatos de câmeras e diferentes materiais fotossensíveis. num dos cursos fizemos fotos em filmes gráficos que depois eram positivados em filmes gráficos novamente para serem visualizados em pequenos monóculos. eles ficaram pendurados nos corredores das oficinas.

nessa mesma exposição, o marcos blau montou a instalação luna córnea – uma câmera de madeira em proporções humanas, onde o público podia entrar e ver a formação de imagens. ele também fazia alguns retratos nessa instalação que eram reveladas no laboratório do galpão das oficinas. infelizmente não achei registros dessa instalação no sesc pompeia, mas achei a imagem abaixo, feita através da luna córnea, e que guardo aqui comigo.

nessa foto da equipe das oficinas, feita pelo marcos blau, cada parte é um papel de 18x24cm. a imagem final tem 54x72cm. patricia dini, simone wicca, regina marques, paula kirstus.

seguimos fazendo atividades com pinhole ao longo dos anos, uma delas foi o cinepinhole, em que trabalhamos juntas cátia leandro, letícia ramos e eu. a letícia ensinava a parte de roteiro, posicionamentos de câmeras, eu ensina a construção das câmeras e revelação das fotos pinhole e a cátia leandro ensinava a digitalização das imagens e a montagem para a sequência de fotos virar um video.

Cinepinhole/2007.

todos os anos fazíamos alguma programação especial para o pinholeday. em 2010, fizemos a megapinhole, atividade orientada pelo guilherme maranhão. e nesse dia fizemos uma interlocução com belém. atualmente as videochamadas são muito comuns (agora inclusive é a forma mais possível de comunicação na pandemia), mas naquela época era algo bastante inusitado. mostrávamos o que estava acontecendo no lab do sesc pompeia enquanto o pessoal de belém mostrava as produções da fotoativa.

versão longa 8min
versão curta 3min10.

vou agora dar um salto no tempo para 2015 (e depois retornarei para 2014).

em 2014 eu fui para uma entrevista de trabalho no sesc ipiranga. quando fui conversar com os gerentes (a monica carnieto e o antonio martinelli) passei pelo enorme quintal do sesc ipiranga (um quintal maravilhoso, #saudades) e vi um container lá. durante a conversa, fiz poucas perguntas sobre a unidade, mas me lembro de perguntar: ‘naquele container… tem água?‘, ao que eles responderam: ‘tem!‘. e eu falei: ‘noooooossa!‘. pois bem… fui trabalhar no sesc ipiranga, e em 2015 transformamos o container numa câmera laboratório. o container já tinha sido uma biblioteca, um espaço de tecnologias e artes, antes de virar o observatório. quem prestou toda a consultoria e apoio para os cálculos da lente, desenho do labirinto de cortinas e detalhes da adaptação do espaço foi a beth lee e o edison angeloni. quem fez a produção foi a mylena mandolesi/elástica. chamamos o miguel chikaoka para inaugurar o projeto dando uma atividade para multiplicadores. a beth e o edison deram várias atividades, e recebiam o público em visitas à câmera obscura e faziam retratos também lá dentro. a luciana castilho e o mauricio virgulinho deram aulas de construção de câmeras e de foto na lata. como o espaço era amplo, podíamos tanto dar as atividades lá dentro do container, ou durante o dia, fazer parte das atividades do lado de fora (como montar as câmeras obscuras e pinholes, e secar no varal externo as cópias reveladas lá dentro no laboratório). convidamos também o dirceu maués para fazer uma instalação em que ele fez inversões na paisagem montando câmaras obscuras entre as árvores do quintal. o projeto envolveu também outras atividades fotográficas (não relacionadas diretamente ao pinhole, como fotografias lambe-lambe com o mauricio sapata e também aulas de revelação de filmes com o edison angeloni e a beth).

voltando para 2014 agora…

o roger estava pensando na montagem de um lab móvel para revelação de placas úmidas pela cidade e quando comprou a bicicleta para fazer o projeto do lab dele, comentei: ‘nossa! dava pra fazer uma atividade bem bacana ao ar livre!‘. eu já tinha duas caixas de revelação de raio-x que usava para dar aulas em escolas e comentei com o roger: ‘vamos testar e ver se funciona fazer revelação nelas em espaços abertos?‘. fomos até o minhocão aqui em sp para fazer testes. descobrimos que o acrílico funciona bem para ambientes fechados, mas vaza um pouco de luz em áreas externas, mas cobrimos um pouco a tampa e fizemos assim mesmo, norteados pelo tato. ao chegar em casa naquela tarde, liguei para o guilherme maranhão perguntando: ‘topa?’ e assim nasceu o LABici. de um delírio de fim de tarde, num final de semana.

pensamos em montar uns kits para as pessoas montarem suas câmeras na rua. fomos na leroy comprar ripas de madeira pra cortar, e me deparei com essa madeira redondinha. e pirei: ‘eu quero isso‘. e agarrei nos pacotes. por que era redonda, bonitinha, tinha a ver com a bicicleta. daí chamei uns amigos gravadores (a cleiri cardoso e o gabriel bitar) para fazer o carimbo (que a cada ano era diferente), o gabriel também criou a logo marca do projeto, fizemos camisetas. enfim… e como delírio pouco é bobagem, os meninos entenderam que a gente precisava ter uma porca-garra na base, pra câmera poder ser colocada no tripé. e foi o que foi. fizemos o primeiro LABici em duas partes: a primeira com o curso pra montar a câmera no minhocão, e um lab livre com câmeras já prontas no largo São Bento. nomeamos cada uma das nossas câmeras que construímos só pra puxar assunto com os participantes: ‘você sabe quem foi man ray?’. como a gente queria a experiência de pedalar o laboratório pela cidade, então fomos do minhocão até o largo são bento a pedal.

a atividade foi tão sucesso que fomos convidados para viajar com o LABici para São José dos Campos, para um evento de fotografia na cidade. a atividade aconteceu no pq vicentina aranha, e ficamos ao lado de um coreto, que era legal pq tinha uma área de sombra, e o pessoal podia fotografar em todo o parque.

em 2015 já estávamos com melhorias nas nossas caixas laboratório. as caixas de raio-x começaram a ficar frágeis com tantos deslocamentos e o roger fez um laboratório de madeira mais resistente.

em 2015 também ganhamos um presente. a paty vilela foi participar da atividade e nos presenteou com um video maravilhoso, que mostra muito bem como a nossa ação se dava na rua.

a ideia na jornada pinholeday 2021 da fotoativa é contar histórias… mas como passado, presente e futuro se relacionam, fico aqui imaginando que essas ações ao ar livre são alternativas, são possibilidades viáveis para um futuro próximo (esperamos). existe uma infinidade de atividades fotográficas possíveis de serem realizadas ao ar livre, e consigo vislumbrar dar aulas em praças mas reservadas, onde a gente possa se encontrar e partilhar saberes com segurança.

filme washi

pausa dos testes de daguerreótipos para testar a revelação do filme washi W.

há uns anos, comprei um filme artesanal washi film. é uma emulsão de gelatina sobre papel japonês produzido artesanalmente na frança pelo artista lomig perrotin. esse filme ficou guardado por muitos anos. com a pandemia, resolvi passar 4 dia das minhas férias isolada num chalé em gonçalves-mg, e levei esse filme (além dos tri-x). a ideia da pausa, da lentidão, de dias calmos, pareciam combinar com as longas exposições desse filme de baixa sensibilidade. coloquei no chassis 6x9cm da câmera topcon, peguei um tripé, disparador e saí carregando isso tudo na mochila no meio do mato fotografar. 🙂

na embalagem e bula, não há uma precisão quanto ao iso, que varia entre 25-12 a depender das condições em que fotografa (sol, sombra, etc). um washi film w, vencido em 2015, exposto a iso 25 (sol) e iso 12 (sombra). o lugar tinha muito verde (amém!), e o filme é mais sensível aos azuis, pouco aos verdes e insensível ao vermelho (ortho). fiquei a procura de um revelador que fizesse ‘as vezes’ de um eukobrom da tetenal, que não se acha aqui no brasil. fiquei entendendo que precisaria ser um revelador ‘pedrada’. pensei em d-72 (dektol) puro, enfim. lancei a dúvida no fb e tive algumas sugestões e palpites de fotógrafos experientes. descobri também um grupo no fb específico sobre filme washi, em que até o fabricante participa. ele sugeriu que eu usasse um revelador multigrade diluído 1:1 (que para papel normalmente usamos 1:9 !). bem, fui em busca de comprar o revelador e finalmente estava com ele em mãos nesse final de semana.

talvez eu não tenha escolhido o melhor dia para essa revelação… 37oC na sombra em são paulo, 30oC dentro do meu lab (e da água que saía pela torneira), mas… estava obstinada. o roger também tinha um filme desse e resolveu terminar para revelarmos juntos.

daí revelamos ao vivo nossos filmes washi. a revelação na bandeja é bem delicada (as vezes desesperadora, com o filme querendo ‘dobrar sobre ele mesmo’). como comentei, estava 30oC dentro do lab e apesar dos nossos esforços para deixar os químicos à 20o.C, com banho-maria e tudo o mais, a emulsão pareceu meio que ‘desfazer’ criando manchas e rastros. usamos revelador Ilford Multigrade 1:1, segundo recomendação do fabricante, mas as imagens ficaram bastante densas (revelei aproximadamente 2min, o tempo máximo sugerido é 3min e menos do que 2min parecia que deixaria o filme ainda mais manchado, mesmo fazendo a pré-lavagem). quando o filme secou e ficou parecendo um ‘Mandiopã’, rs. coloquei na mesa de luz e fiz os registros abaixo.

aqui, no momento de terror e pânico ao manipular o filme que queria dobrar-se sobre si mesmo 😰

depois coloquei uma lente macro no celular para capturar os detalhes da textura esquisita que esse filme tem.

achei uma pena que ele ficou tão denso e contrastado, que talvez não role de fazer ampliação analógica 😦 acho que vai ficar só na reprodução com celular ou escaneamento mesmo… 😦

corpo das imagens

labday! 11/outubro foi dia de provar a câmera 4×5” busch pressman (!) com uma lente graphex 135mm no estúdio-lab tito. louco pensar que essa foi uma câmera usada no jornalismo, né? bem, a fonte de iluminação foi uma luz continua. f 5.6 e os tempos de exposição variaram ente 2 e 8s no filme adox orto 25. a revelação foi 6min em parodinal feito pela beth lee, diluído 1:50, 21oC (temperatura do lab hoje).

no dia seguinte, feriadão das crianças, fiz as cópias positivas!

fiz contato em papel resinado PB, negativo duríssimo. depois fiz uns contatos em cianótipo sobre papel montval.

daí fiquei reflexiva…

quando você ‘acaba’ de fazer uma foto? assim que aperta o botão? eu diria que as minhas muitas vezes começam bem antes e terminam bem depois. escolha do filme, do tamanho dele, da câmera, da forma de revelar o negativo, do tipo de técnica para fazer as cópias positivas, suportes, superfícies de papel… enfim… a imagem pode ter muitos corpos, muitas materialidades, mesmo que parta de uma mesma matriz. e mesmo depois de passar por tudo isso, ainda pode até ser vista através de um dispositivo digital. tenho pensado sobre isso… o futuro da materialidade das imagens, nas formas de suas exposições… se antes eu já estava ‘enfarada’ de ver tanta impressão jato de tinta da pigmento mineral sobre papel de algodão, como será no pós pandemia? cada vez existem mais exposições virtuais e consequentemente estamos cada vez mais distantes de observar os objetos fotográficos e sua corporalidade…

o corpo das imagens e a relação do nosso corpo com o objeto fotográfico é meu ponto de interesse nas minhas pesquisas.

temos visto uma proliferação de tours virtuais em exposições e… o observador é privado de tantos estímulos ao embarcar nessas visitas virtuais… ao ver uma exposição assim, é até possível ver uma vaga ideia da espacialidade a mostra, mas a relação com os trabalhos é muito prejudicado. penso que poderia ser um ótimo recurso de arquivo, de registro histórico, uma espécie de catálogo que contempla uma certa espacialidade, mas imagino que a menos que a exposição tenha nascido com o propósito de ser virtual apenas, com obras sem materialidade, ela jamais será a coisa em si.

essa incerteza sobre como serão as exposições daqui pra frente me assombra.

a grande pergunta é: como expor daguerreótipos nesse futuro? obras pequenas, únicas, de impossível reprodução, que pressupõem uma relação do observador com o objeto (ou manipulando a placa ou se movendo ele próprio para achar o melhor ângulo de incidência de luz e reflexo de sombra)?

no último final de semana estive no lab novamente. revisitei negativos de fotos pinhole que fiz há uns anos em portugal. são pedacinhos de filme ortho (adox 25) que cortava displicentemente com tesoura dentro da câmara escura, às vezes na rua mesmo. fazia um picote no cantinho de cada pequeno retângulo mal cortado pra conseguir discernir o lado da emulsão. truques. tudo faz parte da imagem: a tortuosidade dos cortes, uma eventual digital por manipular o filme na câmara escura no calor das ruas… uma ou outra mancha ou risquinho por revelar o pedacinho de filme direto na bandeja, e depois a escolha do contraste e densidade na hora da cópia.

aliás, foi um dia profícuo. fiz várias ampliações e daria pra seguir por mais algumas horas no lab, mas resolvi parar. me lembrei que recebi uma orientação de um professor na época da faculdade, pra nunca fazer muitas cópias no mesmo dia. ele dizia que nosso humor/temperamento no dia poderia influenciar nas escolhas de densidades e contrastes, e no dia seguinte você se deparar com fotos muito (ou pouco) densas, muito (ou pouco) contrastadas. que bom era dar um tempo, e olhar para elas com calma. hoje senti que estava fazendo escolhas puxando pra densidade alta. vamos ver amanhã, se continuarei a gostar delas.

como de habito, fiz fotos do processo, do lab, do varal… até um videozinho da minha mesa de luz. eu escolhi as fotos pra ampliar usando o celular como lupa (com tons invertidos) na mesa de luz. é hibridismo que chama?

enfim… me pediram scan das fotos… entendo. a pessoa está a milhas de distância, viu uma imagem pendurada no varal cheia de reflexos, se interessou pelos ângulos, distorções , e gostaria de vê-la com menos interferência, sem reflexos, mais plana. é justo. eu diria até que é possível… mas faz sentido? o que fica do que escapa? o assunto, ângulo, distorção… eu nem tenho scanner… e o papel brilhante? e a dimensão escolhida (fiz num pedaço de papel 12x18cm, que cabe nas minhas bandejas e também funcionam bem para ampliação de imagens com o foco duvidoso das pinholes pequenas)?

perguntas sem respostas fáceis…

das surpresas que o passado traz

nos últimos finais de semana resolvi voltar pro lab PB e ampliar algumas imagens de filmes 120 que revelei em agosto e também revisitar meus porta negativos mais antigos.

minha primeira incursão no lab de ampliação pb na quarentena foi movida muito a afetos. fiz cópias de retratos de pessoas queridas, de lugares amados, de viagens memoráveis. acho que foi saudade…

nesse feriado prolongado estava interessada em experimentar uma técnica que ouvi falar. a ideia era mesclar ampliação pb com lumen print (processo que sei da existência, mas explorei quase nada). antes de começar essa experiência, fiquei intrigada com uma imagem da ilha do combu repleta de manchas/fungos e resolvi ampliar.

o ampliador meopta está com uma lente 80mm que não tem aberturas (o guilherme me deu e ela deve ser de algum outro equipamento, e foi adaptada pro ampliador), e o fato de eu estar fazendo pequeninas cópias (logo, com ampliador baixo) está resultando em tempos de exposição muito pequenos… coisa de menos de 2s. fiquei trabalhando um bom tempo pra conseguir fazer burning decente com tão pouca margem de manobra… mas saiu. quando finalmente fui fazer a experiência (que consiste em expor a foto, revelar, lavar, secar, colocar num frame com objetos para o lumen, e depois fixar) o sol já estava indo embora. levei o frame montado com a foto exposta, revelada, lavada e seca pra varandinha, mas o sol foi embora 10min depois, e deixei a imagem embaixo de uma luminária para completar a exposição por aproximadamente 1h. fixei e me arrependi… o tom rosado e cheio de detalhes virou um amarelo esquisito… mas… fiz a experiência. usei o papel 10x15cm que estou ampliando. um adox easy print 312 com contraste variável.

hoje estava olhando para algumas imagens do passado. liguei a mesa de luz e fui vendo vários diapositivos da época em que estava na faculdade. gentes pelades… minha obsessão juvenil. deu saudades de fotografar gentes sem roupas novamente.

levei de casa para o estúdio minhas pastas com negativos. muita coisa. fui olhando as imagens na mini mesa de luz aos poucos. muito negativo colorido… muito. e de repente me deparei com um print file com duas tiras de filmes em cada espaço. por que raios eu fiz isso?!? economia? talvez… mas o que me supreendeu foi que bati o olho e achei a sobreposição muito perfeita.

coloquei assim mesmo na gaveta do ampliador. fiz uns testes de faixa e me deparei com isso! uau!

fiquei me perguntando por que tinha deixado esses negativos juntos. e olhando pras imagems, me lembro que nessa sessão no estúdio do senac, eu estava com uma câmera 35mm uma nikon fm2, com uma 55mm micro, minha lente favorita pra fotografar gentes. e tinha uns filmes 120 também… daí peguei uma hasselblad emprestada no senac. lembrei de tudo. do desconforto e estranhamento de fotografar com a hassel, o formato quadrado, a posição para olhar… sentia que estava meio presa ao equipamento, minha relação com a câmera estava pouco fluida e interferia na forma como eu interagia. com a fm2 e a 55mm eu me sentia mais imersa no contexto do registro. para o trabalho, lá por 1999-2000, eu usei as fotos feitas na fm2, ampliei elas bem lindas em papel fibra 18x24cm. esses filmes 120 ficaram abandonados. acho que nunca olhei direito pra essas imagens. até hoje. quando meu jeito relapso na guarda desses negativos me levou a olhá-los com mais cuidado.

aproveitando a ‘dica’ que meu eu relapso do passado me deu, resolvi sobrepor ‘com intenção’ mais um par de negativos. achei lindo. todo esse toque, essa libido e essa juventude pulsante ganham outros significados agora, 20 anos depois e em tempos de distanciamento social.

fiquei feliz. e minha incursão de hoje me rendeu essas duas pequenas cópias.

💗

ciano coisas

o doutorado está andando a passos lentos no momento… algumas leituras, pesquisas, mas nenhuma imagem ou exercício prático no momento.

aproveitando a calmaria do recesso de fim de ano e das folgas de janeiro, resolvi embarcar num pequeno projeto das horas livres. a beth lee me incentivou a fazer objetos fotográficos para venda nas feirinhas. achei oportuno para voltar às imagens e ao lab.

no final do ano fiz uns scans de objetos da fotografia analógica: filmes, bobinas, espirais, tanques.

nesse último final de semana parei de postergar, assinei e baixei o photoshop para fazer os tratamentos nas imagens e dar saída em negativos grandes.

hoje imprimi as transparências na minha impressora jato de tinta, pra testar logo mais.

por agora a ideia é fazer umas sacolas, talvez uns estojos com as imagens em cianótipo… juntar a costura e a fotografia em coisinhas para o cotidiano. vamos ver pra onde isso vai. 🙂