já faz um tempo que o roger sassaki me fala que eu deveria lixar minhas placas de cobre antes de polir. o francesco fragomeni também lixa. daí calhou da lixadeira de cinta do josé pedro nepomuceno estar numa manutenção aqui em são paulo e ficou pronta. ele emprestou para um teste. comprei lixas de diversas gramaturas (600, 1200, 1500 e 2000), bem como uma cinta de feltro, que segundo o fabricante, várias pessoas usam para polir metal.
de cara achei o feltro meio grosso, fiquei com a sensação que ele iria mais riscar do que polir.
comecei a lixar e finalmente o suporte que o roger construiu teve um uso condizente.
o suporte tem parafusos e chapas que mantém a placa no lugar por pressão lateral. é meio chato de ficar ajustando, mas rolou super bem na primeira placa. na segunda placa ela começou a desapertar e a lâmina voou longe duas vezes 😵 o roger comentou que vai revisar os parafusos e o projeto.
até hoje não consegui achar aquelas ventosas com cabo tipo bastão, que são usados por daguerreotipistas americanos para colocar as placas nas caixas de sensibilização. deve ser algo fácil de achar no eBay, mas não faço a menor ideia de como eles chamam aquela peça então a minha pesquisa no eBay sempre foi infrutífera.
essa lixadeira pode ser usada com a lixa voltada para baixo ou para cima. usei para cima e posicionei a placa para lixar com ela na vertical (no video abaixo é possível entender melhor o funcionamento).
minha ideia hoje era preparar as placas de diferentes modos e observar suas diferenças. lixadas com gramatura 600, 1200, 1500, 200. depois com todas essas lixas mais o feltro, e por fim com a politriz roto orbital e com a politriz de bancada. meus planos foram abaixo quando percebi que a lixadeira, depois de trabalhar por volta de 1h e 30min começou a ‘desmontar’ a minha régua de extensão elétrica 🫤 daí resolvi dar um tempinho e fui para leituras. voltarei à lixadeira na próxima ida ao estúdio e conto aqui minhas impressões finais sobre ela. já li metade do livro inferno, de Strindberg, sugestão do Wladimir na minha banca de qualificação.
o livro é doidíssimo! é uma especie de diário com relatos de uma crise psicótica do autor, em Paris no fim do século XIX. além de dramaturgo, Strindberg foi pintor, fotógrafo e também pesquisava química/alquimia. recomendo!
então, rolou! no final de janeiro qualifiquei o doutorado.
não foi super tranquilo mas também não foi super tenso. de toda maneira, essas situações de avaliação sempre me deixam super ansiosa e eu já estava sem dormir direito há muito tempo.
achei propício fazer um experimento no mês que antecedia a qualificação: diminuir drasticamente até eliminar meu consumo de cafeína.
tenho me questionado sobre meu consumo excessivo de café ao longo de tantos anos. tenho pensado que ele não é exatamente um energético, mas um estimulante. e para quem está cansado e com o sono desregulado, parece um contra senso ficar se pilhando de café durante todo o dia. e isso é um vício muito antigo. comecei a questionar também essa ideia de eficiência que o mundo nos obriga, de estar atento, alerta, todo o tempo e tirar energia de onde nem se tem, a serviço da performance.
tive umas duas semanas bem esquisitas, com sintomas de abstinência. enxaqueca, enxergava uns brilhos luminosos, cansaço excessivo. enfim… passadas as duas primeiras semanas, entrei numa semana em que eu passei a sonhar muito e lembrar de todos os detalhes. uns sonhos estranhíssimos. todos os dias, durante uma semana. agora as coisas se normalizaram um pouco mais, mas o cansaço não passou, e eu estou mais desatenta, esquecida e cometendo pequenos erros que eu não cometeria. ainda assim, não estou inclinada a voltar a consumir cafeína por enquanto… estou querendo me reconhecer nesse momento, a me entender sem esse aditivo estimulante. e principalmente, parar de mascarar o cansaço. descansar mesmo, não precisar estar nesse estado de alerta constante.
isso tudo pra dizer que essa semana fui revisar as anotações dos meus sonhos durante a terapia e achei curioso como todas as leituras alquímicas, as imagens simbólicas acabaram aparecendo lá. os elementos, os planetas, o som do mundo (foram uns sonhos beeeem doidos, com direito a mergulho na terra com óculos-lupa e uma esfera que quando na palma da mão fazia o som do mundo e os movimentos de rotação e transladação, enfim… doideiras). estou achando que tenho material visual para pensar em outras imagens para o meu projeto, vindas diretamente do meu inconsciente.
outra coisa que cheguei a conversar antes mesmo da qualificação com minha terapeuta era que essa certa falta de objetividade (que eu atribui à falta de cafeína) me deixava um pouco sem saber o que eu falaria exatamente no dia da qualificação. e de fato, eu levei muitas coisas (malas e sacolas de coisas) e eu decidi mesmo na hora o que eu iria mostrar. sobre a qualificação, minha ‘mulher da cabeça’ (terapeuta) me disse que quando pensava na minha qualificação ela me imaginava na carta do mago: uma mesa repleta de objetos simbólicos, e eu com uma mão que aponta para cima e outra que aponta para baixo (‘o que está no alto é como o que está embaixo’). ela talvez sem nem saber, me deu uma nova imagem para eu fazer uma série. e quando falei disso, o Wladimir e a Lúcia lembraram também da imagem de Aristóteles e Platão.
fiz uma pesquisa rápida e deixarei aqui embaixo uma galeria de imagens de cartas do mago, em diferentes tarôs.
fui também revisar o principia alchimica do tamossauska para vislumbrar o que me aguarda no albedo, e acabei entendendo que parte dos exercícios de coagulação do chumbo pode ser justamente mudar hábitos alimentares, evitar algum alimento específico.
ou seja, sem nem lembrar, acabei seguindo nas operações. eu ando desatenta, mas aparentemente minha intuição anda me conduzindo bem nos processos.
estou muito feliz em participar da Bienal Internacional de Fotografia ‘Image As Object: Alternatives’ , organizada pelo Programa de Fotografia + Mídia Integrada, na Escola de Arte + Design da Universidade de Ohio, com a curadoria de Deborah Orloff.
cada obra explora a manifestação física daquilo que não pode ser fixado de outra forma – o tangível no intangível.
a exposição, que procurou apresentações que considerassem a ‘objetificação’ da fotografia, abriu em 24/1 e mostra 41 artistas que trabalham amplamente dentro do espectro da mídia baseada em imagem, incluindo processos fotográficos convencionais e não tradicionais, imagens em movimento e instalações. meu trabalho selecionado foi o ‘ovum philosophicum’ (daguerreótipo becquerel, 2022).
Image as Object: Alternatives 2023 Curadoria de Deborah Orloff Exposição: 24 de janeiro a 17 de fevereiro de 2023 Recepção: sexta-feira, 16 de fevereiro, das 17h às 19h. Palestra da curadora: 19h. No Mitchell Auditorium.
a convite da querida Camila Mangueira, hoje fiz uma apresentação para os alunos da Universidade do Algarve. a disciplina orientada pela Camila se chama Arquivos Digitais e Analógicos e é focada na discussão dos arquivos e documentos de criação artística. segundo ela, ‘dentre as questões mais centrais está a de como lidar com a documentação da criação e a relação obra final e processo’.
a ideia foi mostrar o processo de criação do meu mestrado até chegar na exposição na GAIA (Galeria de Artes do Instituto de Artes), na Unicamp.
registro feito por Patrícia Dourado, colega de trabalho de Camila, que assistiu a apresentação diretamente da Universidade do Algarve, no telão da classe 💗
eu sinto que essas conversas são sempre muito legais pra mim (torço muito para que sejam boas para quem me ouve também). falar é se ouvir, e às vezes as perguntas feitas me respondem a respeito de outras questões.
fico super pensativa depois e sempre saio dessas conversas cheia de respostas. ❤️
depois da aula fui dirigindo para o meu local de trabalho pensando na pergunta que uma aluna fez sobre o assunto que eu fotografo, minhas escolhas sobre os temas, em suma: o referente. a resposta que dei a ela, me responde o motivo por eu fazer daguerreótipos contemporâneos… o ato fotográfico no meu trabalho sempre foi uma fração muito pequena do tempo que dispendo antes e depois do ‘clique’. o processo ocupa mais meu tempo, meu pensamento e minhas intenções. é como se o assunto (o referente) fosse de certo modo ‘menos importantes’, por que o principal é toda a materialidade envolvida na construção daquela narrativa. o processo é tão imprescindível que ele de certo modo ‘condiciona’ um pouco do que será o referente na imagem fotográfica. por exemplo, no caso do trabalho do mestrado, eu usei uma única imagem fotográfica pra todos os anthotypes que aparecem no trabalho. e confesso que fiquei um tempão pensando que imagem seria, quando durante todos os testes eu usava uma imagem de um urubu pousado no ver-o-peso. às tantas, me dei conta que era essa imagem mesmo que deveria ser ‘a foto’, pois o processo diz respeito a efemeridade, sobre ciclos de vida-morte, sobre o que fica do que se apaga, e o urubu é um animal que carrega toda essa simbologia de transformação da matéria. no doutorado, a materialidade da imagem (cobre, prata, ouro) me levou a pesquisar sobre alquimia, que carrega uma série de imagens simbólicas interessantes que tem me inspirado a fotografar. é novamente o processo conduzindo o assunto registrado, o referente.
nas minhas respostas eu até fugi um pouco do tema da aula e falei um pouco do doutorado, porque eu ando com muita vontade de conversar sobre a pesquisa com os daguerreótipos. cheguei até a pensar em fazer uma live, sei lá… algo como foi o café fotográfico em que eu faço um relato de trajetória. essas apresentações e diálogos me ajudam tanto!
falei de minha opinião sobre o uso excessivo de jato de tinta de pigmento mineral sobre papel de algodão para apresentação de fotografias no contemporâneo (mesmo quando as imagens são do século XIX ou XX), quando a Camila me perguntou sobre a convivência e combinação de arquivos digitais e analógicos nesse meu trabalho do mestrado. apesar disso, usei esse tipo de impressão para as imagens microscópicas, mas não quis reproduzir os anthotypes e expor impressões jato de tinta – que são mais permanentes – porque não faria sentido já que o trabalho justamente diz sobre materialidade e efemeridade dessa mesma matéria. (o que eu fiquei pensando depois é que eu fui ao extremo dessa vez no doutorado escolhendo a dedo um processo que nem sequer é reprodutível – o brilho espelhado do daguerreótipo só pode ser visto e apreciado quando se está diante da ‘coisa em si’).
gostei também do comentário de outro aluno, em que falou que ele poderia fazer uma leitura essencialista (acho que foi esse o termo que ele usou) da minha produção, por eu insistir em apresentar ‘a coisa em si’. talvez em certa medida, eu seja… mas acredito que ele entendeu as delimitações que eu dei e quando assumi que elas (as jato de tinta) poderiam entrar para compor e quando elas não poderiam entrar por que seriam apenas meras reproduções fora de contexto. ao responder essa pergunta, fiquei pensando que se eu trabalhasse com pintura, talvez eu fizesse obras pouco figurativas… estaria interessada no gesto empregado, no acúmulo de tinta, nas qualidades plásticas dos materiais. isso é uma discussão pouco construída na fotografia, que tem uma relação muito importante com o referente desde sua invenção e que na sua história teve mudanças materiais muito mais pautadas nos critérios de redução de tempo de exposição à luz, de sua permanência/resistência e na diminuição de custos do que em suas características plásticas.
para mim a fotografia é tudo: é o assunto fotografado e tudo aquilo que compõem a imagem, pois faz parte da narrativa que se apresenta em forma de imagem.
enfim mil coisas ❤️
muito feliz e agradecida pelo convite e pelas trocas.
ontem peguei as 6 imagens da série da mão alquímica para montar. a ideia será montar em caixas de madeira, similares a montagem que fiz para o trabalho ‘ovum philosophicum’.
fiz uma série de cálculos para que as coisas ‘se encaixem’. e é preciso cortar 2 tipos de papéis (um que ‘envolverá’ a placa, e outro com janela para a imagem que ficará sobre a placa, evitando o contato direto da imagem com o vidro que selará tudo), vidro, fitas, de modo que o dag encaixe entre os papéis, a moldura passe-partout encaixe a imagem bem colocada, e então fazer um ‘sanduíche’ de vidro para que tudo fique junto por pressão, com fita de alumínio apenas selando tudo hermeticamente, sem fitas adesivas fixando papel no dag.
por sua vez, essa imagem montada hermeticamente precisará encaixar na caixa de madeira que será construída na próxima semana. não há muita margem para erro, e essa precisão das medidas me deixa um pouco tensa, confesso.
como da outra vez, martelei as letras formando palavras relacionadas a cada elemento da mão alquímica. durante minha organização com os símbolos e as palavras, me dei conta que falta um elemento importante, o fogo. ou seja, precisarei criar outra imagem! e essa série ficará com 7 e não 6 imagens.
usei novamente as punções que tenho e martelei palavras em latim no passe-partout. por que latim? não sei… talvez porque é comum aparecer em ilustrações alquímicas, e já não é a primeira vez que uso em meus trabalhos (já usei no materia primae no ovum philosophicum).
segui aquela intuição de meu sonho (que na ocasião não me deu a dica do elemento fogo, e eu só me dei conta ao notar que faltava algo que se relacionasse ao iodo).
então, a montagem hermética que tenho feito é a seguinte: vidro, papel (de pH neutro) da espessura da placa (eu empilhei dois canson montval) com uma janela exatamente do tamanho da placa, para ela encaixar e ‘sentar’ no vidro abraçada pelo papel, placa de daguerreótipo, moldura passe-partout (em papel de pH neutro), com a janela do tamanho da imagem, vidro. tudo isso deve ser manipulado com muita cautela e limpeza, pra evitar esbarrar na placa com os dedos e apagar a imagem acidentalmente (acontece, aconteceu, acontecerá… aprenda a lidar com essa impermanência); e para evitar prender qualquer tipo de poeira dentro da montagem (acontece, aconteceu, acontecerá… o importante é cuidar muito para que o estrago seja mínimo… por que se você cuidar pouco, o desastre será grande). por fim, tudo é pressionado e em volta é fixada uma fita adesiva de alumínio (apropriada para fechar quadros, e com padrão museológico).
vidro, papel da espessura da placa, daguerreótipo, moldura passe-partout, vidro. esse ‘sanduíche’ deve ser selado com fita adesiva de alumínio.
essa montagem deixa a mostra o verso da placa.
apesar da imagem ser acomodada numa caixa onde dificilmente o verso será visto (a imagem não ficará solta na caixa de madeira, ela será presa na caixa por pressão), gosto da ideia de deixar vestígios para o futuro. tenho visto vários conservadores e colecionadores que abrem as caixas de daguerreótipos históricos e durante o restauro encontram coisas interessantes dentro das caixas, tais como mechas de cabelo, cartas de amor, ou recortes de papel.
na minha, as vezes restam anotações que vou fazendo ao longo do processo. as vezes sobram anotações sobre a exposição, do polimento ou da prateação. tenho usado recentemente uma fita adesiva mais ‘apropriada’ para ficar em contato prolongado com as placas. nunca fita adesiva é totalmente apropriada, por motivo de… cola… mas, vamos também deixar um pouco de trabalho para os conservadores de fotografias do futuro 😉 ao finalizar a imagem eu tenho deixado essas anotações acompanharem a placa durante a montagem, já que fazem parte da história daquela imagem.
nessa aqui abaixo, por exemplo, ficou uma anotação FF, que é a placa que fiz usando as recomendações do Francesco Fragomeni 🙃 invariavelmente os versos das placas tem a marca redonda de blacklamp na ventosa que uso para manipular a placa durante o polimento manual final e durante a iodização. é… eu não limpo o verso da placa, me julguem a vontade 😬
um colega daguerreotipista (Larry Shuuts) comentou que costuma gravar anotações em buril no verso das placas que ele finaliza. deve ficar realmente lindo! eu, desastrada que sou, preferi grudar uma fita com minha assinatura (eu nem assinaria, mas o roger insistiu), pois acontece com muita frequência eu esbarrar acidentalmente os dedos e estragar imagens… melhor ir com cautela…
em tempo! para quem tem prazer em ver uma montagem ‘do zero’ (cortar vidros, abrir janelas de passe-partout, e tudo o mais), tem um video completinho aqui: https://youtu.be/lmpO7EDBqpE
depois de produzir placas de prata 1000 e de prata 950 nas aulas de joalheria, hoje foi dia de polir todas elas e juntamente poli também uma placa cladizada. a ideia foi fazer um teste de conceito para entender as características particulares de cada uma delas.
comecei polindo as placas cladizadas. essas foram compradas em 2018, quando estive em Rochester. encomendei uma dúzia dessas placas de mike robinson, que mora no Canadá e atualmente é o único revendedor de placas cladizadas.
nas placas de mike fiz a sequência básica de polimento manual: azeite o rotten stone, carvão, veludo.
em seguida poli as placas de prata 1000. comecei com a mesma sequência das placas do mike, mas comecei a ficar incomodada ao ver que as placas apresentavam uma certa textura, que eu chamei de “textura de pele de recém nascido” (que não chega a ter brotoejas, mas tem uma textura esquisita, que não é lisinha). daí fui pra politriz de bancada com pasta (rouge) jacaré vermelha. melhorou mas continuou com uma textura leve. em uma parte, apareceu uma espécie de ‘escaminha’. de cara fiquei pensando que poderia ser algo da laminação, daí me lembrei que durante o curso aconteceu de eu fazer um fio de prata e começar a surgir umas ‘farpinhas’, na medida em que eu esticava e afinava o fio, e que eu precisava limar. conversei um pouco com a Beth lee, que confirmou minha suspeita: “Se está descamando pode ser de passar muitas vezes (pela laminadora) e não recozer no tempo certo. Quando dá textura normalmente é isso”. o que me ocorreu é que a prata ‘cristalizou’ antes de terminar de laminar.
daí fui polir a placa de prata 950, e essa estava com textura ainda mais proeminente. poli na politriz de bancada com pasta de polir jacaré verde. nada. daí lembrei de umas lixas que o roger deixou no estúdio e usei. lixa 400, 600 e 1200, daí voltei para o jacaré verde e depois o vermelho. surgiram duas manchas escuras na placa que não consegui entender o motivo. não sei se alguma contaminação da lixa, ou se era algo mais ‘interno’ da placa. segui polindo manualmente como as demais.
na hora de iodizar, comecei pelas placas cladizadas e percebi que começou a formar umas manchas nas bordas. parei, poli de novo (buff1, buff2 e finalbuff), e depois segui ionizando essa e as placas seguintes.
minha impressão é de que as placas cladizadas iodizaram mais rápido. pelas minhas contas, as placas cladizadas chegaram no amarelo dourado em uns 30-40s, enquanto que as de prata 1000 e a de prata 950 foi em 50-60s. 50-60s é um tempo mais condizente com as minhas iodizações com as placas eletrodepositadas (porém, para essas eu uso outro recipiente de iodo e outra quantidade de iodo, então é mais difícil comparar). pensei inclusive que eu deveria ter feito uma placa banhada a prata por eletrodeposição também para comparar nesse teste, mas… é complexo fazer placa tão miúda e não tive a ideia de cortar uma placa eletrodepositada na gilhotina da escola de joalheria. algo me diz que esse teste vai precisar de outras tentativas para ser mais conclusivo, então, fica aí essa nota mental para mim mesma: cortar uma placa eletrodepositada para juntar a esse teste.
outro dado importante: a placa de prata 950 já iodizou manchada. seguirei com ela até o fim para ver ‘aonde ela chega’, mas não confio que ela vá funcionar.
# 24 horas depois…
hoje vim fotografar com as 3 plaquinhas. a câmera usada foi uma Nikon FM2, com lente 55mm micro (a minha favorita para fotografar gente, mas dessa vez, fotografei uma cafeteira italiana mesmo).
posicionei a fonte de luz com difusor de frente e de cima pra baixo, bem perto da câmera. coloquei papel branco pra rebater a luz nas laterais.
O fotômetro marcou EV 9.5 (ISO 100). Fiz umas contas doidas a partir de minha referência com câmera de fole (eu nunca me atentei a medir o fole pra calcular a perda de luz ). Pelas minhas contas daria f/5.6 e 10min de exposição. E foi! Fotografei a placa cladizada e acertei em cheio!
Daí, como era teste de conceito, fiz as outras duas com esse tempo e a mesma revelação para comparar.
Ao observar as 3 placas juntas, a impressão que tenho é que a placa de prata 1000 ficou levemente sub-exposta. E ficou com uma coloração levemente avermelhada. Isso é um mistério, nunca vi com esse desvio de cor (o mais comum é desviar para os azuis quando sub revelada).
A placa de prata 950 ficou toda texturizada. Me fez lembrar de uma placa eletrodepositada que também ficou esquisita sem eu entender o motivo (essa aqui embaixo).
Das minhas conclusões até o momento:
– placa de prata 950 de fato não funciona. A placa TEM QUE SER de prata pura. Aparentemente o cobre da liga, mesmo que em pequena porcentagem (5%) reage com o iodo formando manchas pela placa toda.
– as placas de prata 1000 são promissoras, mas precisam ser laminadas cuidadosamente, de modo que a laminação não deixe nenhum tipo de textura ou ‘escama’. tem uma ciência aí que eu não domino (ainda).
– as placas cladizadas, revendidas pelo mike robinson são perfeitas (isso eu já sabia, pois já as usei outras vezes), mas infelizmente são financeiramente inviáveis.
– depois de muita pesquisa e diversas tentativas, agora as minhas placas eletrodepositadas, com banho de prata pronto para joalheria, seguem sendo o melhor opção em termos de custo/benefício/investimento.
soube recentemente de um fotógrafo e conservador de fotografias (Larry Shuuts) que faz uma espécie de cladização caseira (‘homemade clad’) usando folha de prata 999 colada com cola epoxy sobre placa de latão. espero que ele possa me dar mais informações de como colar a folha tão fina sobre o latão de modo que ela fique plana e sem ondulações.
no futuro, espero que nesse teste também entrem os espelhos de primeira superfície (como os de Camilo Sabogal) e as placas de bronze prateadas sem cianetos (de Andrés Bonafedes).
com isso teremos uma boa gama de possibilidades de superfícies para se fazer daguerreótipos. ❤️
o livro tem uma capa que te convida a seguir de mãos dadas com o autor, que te leva a um passeio por diversos daguerreótipos. são dele todas as imagens, os scans dos daguerreótipos e os textos. sobre o texto falo daqui a pouco.
logo no início há uma caixa de madeira com o topo ‘explodido’ seguida de uma série de dags que parecem nebulosas. depois umas paisagens que não se sabem se desérticas ou siderais. seguindo o passeio, há uma grande série de fotografias de corpos vistos bem de perto. ele parecia querer mergulhar na pele. pele que as vezes também se converte em bonitas paisagens. daí sucedem imagens de paisagens urbanas com multidões. por vezes brilha um céu azul de superexposição de daguerreótipo. o artista comenta achar fabulosa a analogia do azul nos céus de dags: “as partículas de prata se acumulam em uma massa caótica e refratam luz em um comprimento de onda azul. Então, quando o céu é azul em um daguerreótipo, é azul exatamente pela mesma razão que o próprio céu é azul”.
como pesquisadora da prática desse processo, vou em busca de vestígios: os furos nas bordas das imagens (é delicioso quando as placas são publicadas na íntegra!) e eventualmente um brilho do cobre sob a prata me indicam se tratarem de placas eletrodepositadas (electroplating). procuro por marcas de polimentos, de indícios de umidade, pois ver esse tipo de sinais nas placas de artistas que já tem ‘estrada’ nesse processo são coisas que alentam qualquer daguerreotipista iniciante.
daí chego no texto, que li por último. poucos artistas tem destreza em falar de suas produções de um jeito generoso. spagnoli fala de einstein, de tempo e luz, e descreve visualmente e sensorialmente um passeio de carro pelo deserto (que esclarece mais ainda aquela peles-paisagens). ele também generosamente fala sobre o processo de criação de suas ‘imagens-explosão’, as relacionando com o conceito hindu de kalpa. no texto final do livro ele fala um pouco das características únicas e dos porquês de se fazer daguerreótipos. eu já vi jerry spagnoli falando num evento on-line, e ao ver esse livro, ler esses textos, a sensação que dá é que deve ser muito bom conversar com ele.
senti falta apenas de saber o tamanho original das imagens. eu espero um dia ter a chance de ver alguma dessas fotos como ‘a coisa em si’ (the thing itself). 🖤
aproveitando ainda os últimos dias de férias, agendei mais 3 aulas de joalheria. a professora indicou que existem 2 aulas que ela considera fundamentais, para em seguida cada aluno partir para seus projetos autorais: uma aula de solda e uma aula de serra. são aulas exercícios em que se faz uma peça com o intuito de exercitar bem cada uma dessas ações. como eu pirei na solda, já quis logo fazer essa aula como segunda experiência. ela sugeriu fazer uma pulseira ou colar com vários elos para soldar cada um deles usando técnicas variadas. então nessa aula fiz a liga de solda (que é uma mistura com diferentes proporções de prata e latão, a depender da resistência que se espera ter). e também fiz a liga de prata 950 para fazer um fio, que depois foi transformado numa ‘mola’ de metal, e serrado pra virar vários elos. a ‘molinha’ foi colocada num morceto para ficar firme enquanto eu serrava. depois é hora de moldar cada elo com dois alicates e alinhá-los sobre a pedra filosofal para soldar. a primeira técnica de solda, foi a que usamos para o anel: deixar a liga da solda no ‘chão’ da pedra, justaposta ao vão entre cada lateral do elo que se quer soldar. pince-la o fluido de solda, aquece e por capilaridade a solda sobe preenchendo a lacuna assim que a temperatura chega ao ponto de fusão da solda. a segunda etapa é começar a emendar todos os círculos com novos elos abertos.
daí começa a parte mais complexa da solda. prende-se o elo a ser soldado numa pinça, pincela nele o fluido de solda e aquece, em seguida pincela a solda com fluido e aquece a solda com uma ponta seca perto. a solda aquece e vira uma bolinha que se gruda na ponta seca. essa é a hora de levar a bolinha ao topo do elo e aquecer com o maçarico o elo por igual (fazendo esforço pra não derreter os demais elos). a mágica acontece (ou não), quando a peça chega na temperatura de fusão da solda: ela derrete e preenche a lacuna. ou corre pra outra parte da peça! soldas não ‘pulam’, mas elas tem o hábito de correr para onde querem. e tem preferência por áreas mais quentes da peça. as vezes a bolinha pula, sim… ela se desprende da ponta seca e corre para algures da bancada, onde dificilmente a gente encontra depois…
fiquei várias horas nisso e na terceira aula também.
como parte da minha pesquisa em daguerreótipo, eu queria testar fazer dags sobre placa de prata sólida (prata pura, prata 1000). pedi ajuda para a professora (Priscila) e o assistente (Otávio ) para aprender a fazer hoje as mini plaquinhas para colocar em câmeras de 35mm 🤩
o processo pode ser visto no vídeo abaixo, mas resumidamente, funde-se a prata 1000 (ela é meio ‘grudenta’) e derrama num molde. em seguida resfria e leva à laminadora. no meio do processo da laminação é preciso recozer a placa (aquecer com o maçarico até ela ficar vermelha) pois a placa ao ser laminada começas ficar mais ‘quebradiça’. dá o choque térmico na água, seca e volta a laminar até chegar na espessura desejada (no caso eu pedi para ser 0,6mm). a placa sai da laminadora um pouco curva. daí pedi para a Priscila me ensinar a planificá-la. ela sugeriu cortar em pedaços menores para daí martelá-las entre pesos de aço. recozi novamente a placa, cortamos um pouco maior do que o tamanho final e martelamos os pedacinhos. depois cortei na medida mais precisa e no esquadro. talvez fosse o caso de martelar de novo, mas não fiz. agora é polir bastante as duas plaquinhas até conseguir mini espelhos pra sensibilizar e fotografar. colocarei os resultados e minhas considerações aqui, tão logo eu fotografe.
aproveitei minhas férias para fazer uma aula experimental de joalheria. o propósito era aprender um pouco mais sobre os metais enquanto também dava uma pausa na escrita da tese de doutorado.
para a primeira peça sugere-se a produção de um anel, e assim passar por algumas técnicas de joalheria e finalizar uma peça simples no decorrer da aula.
junto da professora Priscila Vassão, na Escola Arte Metal, pude vivenciar a produção da liga de prata 950 (fusão de 95% de prata 1000 com 5% de cobre), a limpeza da liga com o alúmen, seguida da laminação e serra com o arco (quebrei só uma! rs).
entendi que há uma diferença entra cladizar e laminar (vou corrigir isso no meu texto da tese). a Priscila me ensinou que a laminação de cobre com prata envolve aquecer os dois metais justapostos e depois os passar na laminadora. a liga de prata e cobre tem ponto de fusão diferente (mais baixo) do que dos metais sozinhos, então essa junção dos metais é como um ‘sanduíche’ em que de um lado há a prata, do outro o cobre e no meio a liga. uma vez unidos, a pressão da laminadora em seguida ‘esticará’ a peça que afinará proporcionalmente os metais juntos. já a cladizacão é um processo ainda mais complexo, pois a ligação é feita através de cargas elétricas (elétrons). preciso ler um pouco mais sobre a cladização.
voltando à peça: aprendi também que há uma matemática para a produção de um anel. você deve verificar qual a numeração que deseja fazer, e então somar 40 e somar a espessura do seu ‘fio’ de prata 950. daí esse é o comprimento que deve ter o ‘fio’ que será moldado. no meu caso foi 17 + 40 + 1 = 58.
para tornar a prata 950 mais maleável, deve-se recozer o metal. com ele mais macio, martela-se até que ele fique bem retinho. daí se passa para a fase de moldar a peça com alicate (há um que tem formato de meia lua) e depois soldar as laterais. a solda é um processo louquíssimo: eu coloquei a liga da solda no ‘chão’ da bandeja, o anel em cima, com a parte onde precisava emendar em contato com a liga. daí liguei o maçarico (com a chama ‘mole’) e fui aquecendo toda a peça. quando a peça atinge a temperatura de fusão da solda, por capilaridade ela sobe na junção das partes de prata preenchendo a lacuna. lindo!
em seguida mergulha-se a peça no alúmen novamente. martela a peça encaixada num cone para moldar o anel bem redondinho, lima e lixa manualmente as superfícies, e depois lixa com a ferramenta (tipo uma dremel) elétrica. daí chega o momento de polir com pasta branca na politriz de bancada, limpar bem com sabão antes de polir de novo com pasta vermelha.
a politriz da escola é luxuosa: está instalada num móvel com sistema interno de exaustão, tem iluminação acoplada e acrílico de segurança. é fino.
em tempo: num dado momento da aula, a professora me perguntou se eu gostaria de fazer um acabamento martelado de texturas no anel, e se queria ele fino ou grosso. fui enfática no fino, pois não consigo usar anel grande ou grosso, pq me incomoda os movimentos. sobre o acabamento, fiquei um pouco reticente. o assistente Otávio até me deu uns pedaços de cobre e latão para eu testar e martelar diferentes texturas (e reduzir estresse, desopilar). a verdade é que depois de eu contar dos meus processos fotográficos a Priscila já sacou: ‘você vai querer fazer liso espelhado, né? pq tem a ver com o que você já faz, não é?’. era. pra quem batalha pra conseguir fazer espelhos de prata perfeitos, é um pouco difícil lidar com textura no metal. soa ‘errado’, rs.
enfim! muitas ações, novos gestos (e alguns velhos conhecidos).
pensamos juntas sobre algumas possibilidades. desde tentar laminar uma liga de prata, fazer um tratamento posterior para ‘retirar’ o cobre e formar uma superfície lisa de prata 1000 para fazer daguerreótipos pequenos, até de criar ‘embalagens’, ‘caixilhos’, ‘entornos’ para os meus daguerreótipos.
e depois de quatro horas de conversas com a professora, vários aprendizados e algumas ideias na cabeça, saí de lá com a mão encardida de polimento (como de hábito), com uma aliança totalmente espelhada no dedo e aquele costumeiro encantamento com os materiais, instrumentos e ferramentas!
e no final de semana passado refiz as duas fotos que ficaram comprometidas com a umidade e com o escuro do amarelo do girassol. apaguei e iodizei novamente as placas no sábado e fotografei no domingo. no intervalo entre iodizar e expor, deixei os chassis porta placas carregados num saco plástico hermético com um recipiente com sílica. ainda surgiram umas poucas manchas de umidade, mas bem menos do que as anteriores. curiosamente, meu ídolo takashi arai comentou que estava tendo algumas questões técnicas que o estavam fazendo perder a confiança.
veja… até takashi arai, um dos mais maravilhosos daguerreotipistas da contemporaneidade (na minha opinião, ele divide o podium ali apenas com anton orlov e mais alguns outros), também leva umas rasteiras desse processo. ele comentou de uma taxa de 12% de sucesso. ocorre que takashi está na finlandia, numa residência artística. mudou paisagem, laboratório, temperatura, umidade. vários outros daguerreotipistas o incentivaram e comentaram de suas próprias mazelas com essa técnica. (ele respondeu ao meu comentário ❤️)
ao que tudo indica, mike robinson veio ao socorro dele, oferecendo algumas dicas de soluções possíveis. ele passou a carregar suas placas junto de seu peito, para manter a temperatura, e agradeceu a todos que o incentivaram dando uma FDI-for daguerreotypist information (informações úteis para daguerreotipistas).
voltando ao meu estúdio, abaixo estão as imagens da sessão de domingo (2/10). a primeira imagem é a ‘melhor de 3’. essa placa foi da 4a. prateação, com strike silver, que gerou placas sem manchas e com camada espessa de prata. a segunda placa foi da 3a. prateação, que além de já estar mais ‘fina’ de prata (fotografei e apaguei as imagens nessa placa algumas vezes), possui algumas manchas da prateação.
bati um spray metálico no girassol para ‘abrir’ umas luzes nele (esse processo ‘enxerga’ mal os amarelos – não é fotossensível ao amarelo). funcionou!
para completar o dia, fiz mais uma foto da estrela, mas usei uma placa da primeira prateação que já estava com as bordas mostrando o cobre.
essa semana convidei minhas colegas do trabalho para irem comigo até uma lojinha de bugigangas para comprar ‘coroas de princesas’. elas me olharam com desconfiança, até que expliquei que não era nenhum fetiche estranho… era pra fazer uma foto pra série da mão alquímica, agora seria a vez da prata coroada. hoje fiz a luazinha para o topo da coroa.
semana que vem acho que finalizo a sexta imagem da série da mão alquímica e talvez eu parta para o desafio de fotografar daguerreótipos em cenas externas.