quarta tentativa

quinta-feira voltei ao lab. a ideia era retomar e refazer as imagens tentando usar os mesmos parâmetros para ver se de fato eu consegui equilibrar as variáveis (tempo de iodo, tempo de exposição e tempo de revelação).

peguei aquela plaquinha ‘baleada’, já com uns ‘furos’ na prata, onde já aparece o cobre. poli, sensibilizei. mudei a cena, mas mantive uma iluminação similar EV 12 (100). coloquei minha coleção de copos/pratos/tigelas coloridas da ikea, para também me ambientar em como a técnica ìnterpreta as cores. deixei as 3h na revelação e ficou levemente azulado. talvez estivesse superexposto? a mesa parece solarizada e a imagem novamente está super contrastada… esse equilibrio da iluminação não é simples, minha cena tem uma variação de até um ponto de luz da área mais clara para a mais escura.

já tinha sensibilizado as duas placas (a do teste e a que seria a segunda tentativa do dia). cheguei a conclusão que esse lance de escolher a cor da placa ao sensibilizá-la ao iodo é MUITO subjetiva. lembrei do jairo, que sugeria que a gente nunca ampliasse muitas cópias no mesmo dia, sob o risco de ter fotos muito contrastadas, muito densas, ou o contrário. que o ideal era fazermos aos poucos, pq a gente tem uma percepção que muda de um dia pra outro. com isso em mente, achei que o melhor (justamente pelo oposto que o jairo comentava) era sensibilizar uma após a outra, sem grandes intervalos de tempo, pra ter pelo menos no mesmo dia de fotos, garantir que todas as placas tenham sensibilidade similar.

errei (esqueci o polimento final antes do iodo) e dei várias ‘voltas’ de cores no iodo, só pra observar. depois poli de novo e refiz, escolhendo a cor.

na segunda imagem, expus 1/2 ponto a menos (f 2.8, 2min) e mantive a revelação das 3h. ficou bem mais neutra, mas ainda com aquele contrastão (mas isso tem a ver com o equilíbrio da iluminação e com a cena, coisa que preciso ajustar ainda).

no domingo passado fiquei todo o tempo do lab fazendo lives, conversando. era um pouco de solidão, um pouco de desespero pelo processo estar me dando ‘um baile’, um pouco de ansiedade. estou acostumada (e arrisco dizer que gosto bastante desse tempo) com os processos lentos… meu mestrado foi todo centrado em anthotype, que demora dias para acontecer, e também, a depender de como armazenado, dias para sumir também. essa pausa contemplativa sempre me foi necessária, era o momento da vida que eu podia parar, observar, sem pressa, e ver o tempo que as coisas levavam para acontecer ali naquela matéria. ocorre que é impossível não considerar que o contexto externo mudou. agora, tudo o que podemos fazer na vida é aguardar, de preferência sem muita expectativa. e isso está resvalando no meu processo de criação. essa pausa deixou de ser plena. agora o que causava tranquilidade, causa angústia.

nessa última ida ao lab, tentei voltar para a contemplação do entorno. da colméia de abelhas jataí novas, da ervilha borboleta que floriu e agarrou na vareta que coloquei perto dela no domingo. e do verso das placas, enquanto eu polia.

faço a piada de que enquanto não temos boas imagens no espelho, vou me entretendo com os versos. verdadeiras paisagens, devaneios da vontade. coloquei uma lente macro na câmera do iphone e me diverti fotografando os ‘sonhos abstratos das faces polidas’, como sugeriu o marcelo heleno. na viagem dele, essa face revelaria o que a outra face (a polida) estaria sonhando. achei poético. a poética dos versos.

entremeado com minhas contemplações do ‘entorno’, também li bachelard. tanto meu orientador, quanto minha terapeuta recomendaram essa leitura. me deparei logo com isso:

Assim a matéria nos revela nossas forças. Sugere uma colocação de nossas forças em categorias dinâmicas. Dá não só uma substância duradoura à nossa vontade, mas também esquemas temporais bem definidos à nossa paciência.” (BACHELARD, G.. A terra e os devaneios da vontade – ensaio sobre a imaginação das forças. 1a. parte, IV, pg.19).

eu ri. 😆

Aqui abaixo, as reproduções um pouco melhor das placas que fiz.

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